O TEMPO NÃO PARA, PORQUE O CÍRCULO NÃO É REDONDO – O EXISTENCIANALISMO DE JOSE AIRTON.
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<p>José Airton e sua vida têm muitas caras: <span>pelas suas próprias palavras e versos, ele tem lado de dentro,</span> <span>o lado entranhado. Tudo isso por trás do silêncio, contido e calado.</span> </p>
<p><span>Tudo que disse e direi daqui para adiante, roubei do poeta que tenho a honra de prefaciar neste livro.</span> </p>
<p><span>Para o poeta da pedagogia do encantamento, a vida é um eterno fluir, algo assim difuso e confuso que, sem forma e conteúdo, precisa do vivente pra existir.</span> </p>
<p><span>O nosso poeta, portuguesamente, encara o desafio de ser marinheiro na travessia do mar da vida, e navegar não teme, porque sabe que viver é preciso.</span> </p>
<p><span>E sabe mais, sabe do amor e de suas consequências, porque, se ama assim tão decididamente, sabe que é mister ser forte tanto quanto fremente. Na medida que avanço apresentando José Airton a ele mesmo, roubo-lhe os sentimentos dos seus versos, a alma de sua poesia, na qual afirma que não quer cair nem desistir: quer seguir amando... simplesmente, pois amante, ele sabe que, de tanto amar, fica louco e é quando ama mais ainda com amor, açúcar e afeto. Porque o amor de Airton é como nuvem, sem peso e sem medida: transcende a si próprio.</span> </p>
<p><span>Assim nosso poeta sabe que pra deixar de existir e simplesmente ser, precisa eternamente <em>ser</em>. E sabe mais, sabe que, se sua voz calar, se a poesia estagnar, ainda restam canções gesticuladas.</span> </p>
<p><span>Com a loucura de um louco, ele sente vontade de arrancar a pele, mostrar suas verdades, dizer que é livre e que nele mesmo já não cabe.</span> </p>
<div>E agora, José? Quem é você? Ele responde: </div>
<p><span>Eu, sujeito e objeto,</span></p>
<p><span>Pensamento e pensador,</span></p>
<p><span>Fome que a si mesma devora</span></p>
<p><span>Como se fosse a um só tempo</span></p>
<p><span>A caça e o caçador.</span> </p>
<p><span>Ao prefaciar o livro de Jose Airton, O Existencianalista, faço com ele, como vingança, o que ele e os poetas, os bons poetas, fazem com seus leitores: roubam nossos sonhos, nossos pensamentos, escrevem aquilo que sentimos, sem pedir licença, ladrões que são dos nossos corações e das nossas almas.</span> </p>
<p><span>O Existencianalista nada mais é do que a expressão aberta do tempo e do círculo. Basta fechar os olhos e sentir a poesia contida nos versos:</span></p>
<div>
<p> <span>A liberdade é mar aberto</span></p>
<p><span>Sou poesia ao vento no rumo certo.</span></p>
</div>
<p><span>Adeus, cais! Adeus, porto seguro!</span></p>
<p><span>Sou o meu presente e serei meu futuro.</span> </p>
<p><span>O tempo não para e José Airton, artífice do encantamento, poeta do simples e da leveza, revela-nos, através dos seus versos, todos os nós que fazem a alma humana eternamente humana, um mistério extraordinariamente poético.</span> </p>
<p><span>Assim como o tempo, a poesia também não para, porque o círculo não é redondo. Os poemas de José Airton e sua prática de vida são provas disso. Um assustado andando assustado, um preocupado andando preocupado, uma existência andando existindo, sem dó nem piedade, sem medidas pré-concebidas. Os poemas do existencianalista José Airton são a mais pura expressão do encantamento do espelho que é a vida, quando a gente tem coragem, como ele, de olhá-la de frente, cara a cara, verso a verso.</span> </p>
<p><span>JOSÉ MÁRIO AUSTREGÉSILO</span></p>
<p><span>28 DE MAIO DE 2009</span></p>
<p> </p>