Ascensão do Jaburu em Santo Antônio de Lisboa, Piauí

Ascensão do Jaburu em Santo Antônio de Lisboa, Piauí

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<p>Vista de longe a buc&oacute;lica cidade de Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa no Piau&iacute;, mais parece um pres&eacute;pio vivo encravado em pleno sert&atilde;o, em raz&atilde;o da bela imagem que nos &eacute; apresentada pelo seu relevo, seja pela exuber&acirc;ncia reinante na paisagem, ou pela l&iacute;mpida abobada celeste vista no firmamento, tornando um ambiente, calmo que nos transmite paz e nos remete a serenidade.&nbsp;Al&eacute;m disso, a cidade ostenta o honroso titulo de <strong><em>Capital Nacional do Caju</em></strong>, pois<span>, o munic&iacute;pio produz, exporta e industrializa grandes safras de caju, dispondo de f&aacute;bricas de sucos, caju&iacute;na e industrializa&ccedil;&atilde;o da castanha, sendo tamb&eacute;m um grande produtor de mel de abelha de excelente qualidade e aceita&ccedil;&atilde;o.&nbsp;</span>&nbsp;</p> <div>Mas n&atilde;o &eacute; s&oacute; como Capital Nacional do Caju que Santo Ant&ocirc;nio se destaca. A cidade tamb&eacute;m figura como local onde surgiu o &ldquo;JABURU&rdquo;. Famoso acontecimento edule, social e de confraterniza&ccedil;&atilde;o, o qual prima pela camaradagem, a amizade. Tem caracter&iacute;sticas pr&oacute;prias, ou seja: &eacute; uma reuni&atilde;o para homens, por&eacute;m, quando raramente acontece a participa&ccedil;&atilde;o da mulher, a mesma &eacute; tratada de maneira especial, pois num Jaburu que se presa, a mulher &eacute; destaque, j&aacute; que todas as tarefas e atribui&ccedil;&otilde;es inerentes &agrave;s atividades do acontecimento, at&eacute; o cozinhar, s&atilde;o realizadas pelos homens, portanto, a mulher &eacute; convidada especial. Uma outra particularidade do Jaburu &eacute; que preferencialmente este encontro &eacute; realizado em uma ch&aacute;cara, numa ro&ccedil;a, numa fazenda ou numa propriedade rural.</div> <div>&nbsp;</div> <div> <p>Como sabemos, Jaburu e uma ave da fam&iacute;lia das ciconi&iacute;deas, as quais, frequentam rios e lagoas, preferindo as &aacute;reas pantanosas e alagadi&ccedil;os, se alimentam de peixes e outros animais aqu&aacute;ticos, vivem em bandos e constroem seus ninhos coletivamente. Ent&atilde;o o que uma ave pantaneira tem a ver com um acontecimento corriqueiro de uma cidade do semi-&aacute;rido nordestino? Pois bem, Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa &eacute; banhada pelo Rio Ria&ccedil;&atilde;o, que nos per&iacute;odos de inverno propicia a todos o refrig&eacute;rio de suas &aacute;guas outrora cristalina e piscosa. Al&eacute;m disso, entre as cidades de Santo Ant&ocirc;nio e Bocaina existe a famosa Lagoa do Cumbuco, extraordin&aacute;rio manancial natural que abriga at&eacute; hoje, as mais variadas esp&eacute;cies de p&aacute;ssaros, dentre eles: marrecos, patos selvagens, gar&ccedil;as, paturis, mergulh&otilde;es, soc&oacute;s, maguaris e logicamente jaburus. Este lago natural dista apenas uma l&eacute;gua das sedes destes munic&iacute;pios, j&aacute; que a distancia entre as duas cidades irm&atilde;s &eacute; de apenas 12 quil&ocirc;metros.</p> <p>Em agrad&aacute;vel tarde do dia 22 de janeiro do corrente ano pisei novamente em solo lisboense. Capitaneado pelo parente, o m&eacute;dico veterin&aacute;rio Jonnes Barros. L&aacute; chegando, fui recebido fraternalmente, a principio, por Assis Brito e Luc&iacute;lio Cipriano, depois se juntaram ao grupo v&aacute;rios irm&atilde;os conterr&acirc;neos e aparentados e que fazem parte da az&aacute;fama local. Todos numa prosa agrad&aacute;vel tornaram aquele encontro, um momento de conviv&ecirc;ncia fraterna e feliz. Foi neste ambiente, que me deparei com o Jaburu. Visto que fui logo convidado a tomar parte de um, fato que agu&ccedil;ou o meu faro de jornalista interiorano. Curioso, questionei aquela seleta plat&eacute;ia, o que seria, e em que consistia o Jaburu? Foi quando fui interpelado por Jo&atilde;o da Barra, um dos nossos interlocutores, que atento me ouvia.</p> </div> <div>&nbsp;</div> <div>Em breve relato Jo&atilde;o da Barra afirmou que o Jaburu nasceu em Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa, Piau&iacute; no m&ecirc;s de dezembro do recuado ano de 1974. Segundo o mesmo, tudo come&ccedil;ou com a peraltice de quatro companheiros: <strong>Essias, Pit&eacute;, Jo&atilde;o da Barra e Valdemar</strong>. Sob a lideran&ccedil;a de Essias, era corriqueiro o grupo sair para realizarem ca&ccedil;adas pela zona rural de Santo Ant&ocirc;nio. Quando a ca&ccedil;ada era fraca em consequ&ecirc;ncia da escassez das aves migrat&oacute;rias, o jeito era apelar para a matan&ccedil;a de um ou outro Jaburu desgarrado do rebanho. Mesmo com pouca carne, amenizava em parte a fome dos peraltas ca&ccedil;adores. Acontece, que nem sempre haviam jaburus para serem abatidos, da&iacute;, acontecia um fato curioso: o jeito era apelar e sempre aparecia uma ou duas galinhas, as quais, famintas procuravam comida nos arredores das propriedades rurais, assim eram facilmente e sorrateiramente abatidas pelo grupo. Quando algu&eacute;m ou os propriet&aacute;rios davam conta do sumi&ccedil;o das galinhas interpelavam os celebres ca&ccedil;adores sobre o acontecido, eles tinham sempre uma sa&iacute;da l&oacute;gica: <strong><em>&rdquo;N&oacute;s est&aacute;vamos comendo era um Jaburu&rdquo;. &nbsp;</em></strong></div> <div><strong>&nbsp;</strong></div> <div>Assim surgiu o Jaburu. A principio uma brincadeira, um folguedo de quatro amigos. O fato se popularizou tanto, que se tornou um acontecimento social da mesorregi&atilde;o de Picos. No come&ccedil;o, o Jaburu era feito apenas com carne de aves, principalmente, galinha ou angola (capote), hoje, se utiliza carnes nobres como a picanha e o contrafil&eacute;, buchada, panelada, peixe, bai&atilde;o de dois, farofa e outras iguarias da rica culin&aacute;ria nordestina. Talvez a substitui&ccedil;&atilde;o dos ingredientes tenha acontecido em raz&atilde;o da proibi&ccedil;&atilde;o das ca&ccedil;adas pelos &oacute;rg&atilde;os ambientais. &Eacute; mister relatarmos nesse texto mal alinhavado, que em outras regi&otilde;es do Brasil o Jaburu &eacute; similar a um &ldquo;galinha&ccedil;o&rdquo; (S&atilde;o Paulo), &nbsp;&ldquo;galinhada&rdquo; (Minas Gerais), &ldquo;barreado&rdquo; (Paran&aacute;), &ldquo;churrasqueada&rdquo; (Rio Grande do Sul), moqueca (Expirito Santo), &ldquo;feijoada&rdquo; (Rio de Janeiro) e at&eacute; &ldquo;ribusteio&rdquo; em alguns lugares do sert&atilde;o brasileiro.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>A prop&oacute;sito: no auge da narrativa de Jo&atilde;o da Barra, Jonnes Barros o questionou sobre o tamanho do Jaburu e ele prontamente respondeu: <em>certa feita o Essias pisou na ponta de uma das asas de um Jaburu e eu levantei a outra ponta, esticando a outra extremidade da asa, mediu dois metro e vinte cent&iacute;metros. </em>Por via das d&uacute;vidas Jonnesargumento<em>u: n&atilde;o rapaz, vamos deixar pelo menos com dois metros! </em>Todos os presentes riram un&acirc;nimes.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Jo&atilde;o da Barra &eacute; uma figura folcl&oacute;rica, fiel ao lugar em que vive. Ele me contou ainda o seguinte: que em Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa, Coca-Cola tamanho fam&iacute;lia &eacute; conhecida por &ldquo;Biga&ccedil;&atilde;o&rdquo;. Ningu&eacute;m se atreve a pedir a ess&ecirc;ncia gaseificada, pelo verdadeiro nome, sempre pedem: d&aacute;-me uma &ldquo;Biga&ccedil;&atilde;o&rdquo;. Tudo isso porque na cidade existe um sujeito que atende pela alcunha de &ldquo;Biga&ccedil;a&rdquo;. Dizem as m&aacute;s l&iacute;nguas que &ldquo;Biga&ccedil;a&rdquo; certa ocasi&atilde;o e em detrimento de uma aposta, bebeu de uma s&oacute; vez tr&ecirc;s Coca-Colas tamanho fam&iacute;lia e de quebra, ainda pediu uma &uacute;ltima como tira-gosto. Da&iacute; a raz&atilde;o porque em Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa, no Piau&iacute;, a partir de ent&atilde;o, n&atilde;o se utiliza mais o verdadeiro nome do famoso refrigerante e usa-se somente &ldquo;Biga&ccedil;&atilde;o&rdquo; em homenagem ao inusitado feito do famoso &ldquo;BIGA&Ccedil;A&rdquo;.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Como afirmei no inicio deste modesto arremedo de cr&ocirc;nica, a bem administrada cidade de Santo Ant&ocirc;nio de Lisboa ostenta o t&iacute;tulo de Capital Nacional do Caju, por&eacute;m, poderia naturalmente ser chamada de cidade sorriso, cidade simpatia, cidade apraz&iacute;vel, tudo isso, em consequ&ecirc;ncia do seu laborioso, hospitaleiro e simp&aacute;tico povo.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Foi uma satisfa&ccedil;&atilde;o visitar e estar neste recanto bonito, alegre e feliz do rinc&atilde;o piauiense...</div> <div>&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div><strong><em>* Jornalista. Escritor. Radialista. Membro da UPE - Uni&atilde;o Picoense de Escritores</em></strong></div>
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