'Palavra de ordem agora é sobreviver', diz dona de rede de lavanderias no Rio

'Palavra de ordem agora é sobreviver', diz dona de rede de lavanderias no Rio

Empresária carioca Cláudia / G1

Empresária Cláudia Medeiros Mendes disse que 2020 começou esperançoso, mas pandemia provocou um 'baque' nos negócios. Para manter lojas abertas, suspendeu contratos e reduziu jornada de trabalho da equipe mantida.

A pandemia do novo coronavírus mudou completamente as perspectivas da empresária Cláudia Medeiros Mendes para o ano de 2020. Dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul do Rio, ela tinha perspectivas de crescimento no negócio. Mas, passados quase cinco meses, ela diz que “a palavra de ordem agora é sobreviver”.

 

“O ano começou aquecido e nós estávamos muito esperançosos de recuperar todo o prejuízo de 2019, que foi um ano muito difícil até quase o final dele. Foi um ano muito arrastado. Acho que a maioria dos empresários com quem eu converso fala que começou o ano de 2020 muito esperançoso e, realmente, [a pandemia] foi um baque para todo mundo.”, disse a empresária.

Queda no faturamento

 

Desde que teve início a pandemia, Cláudia viu seu faturamento cair em cerca de 70%. Diante disso, demitiu uma funcionária que havia sido contratada no final do ano passado, quando percebeu aumento da demanda. Dentre os outros 18 funcionários, seis tiveram os contratos suspensos, enquanto os outros 12 tiveram a jornada de trabalho reduzida pela metade.

 

"Eu acho que a palavra de ordem agora é sobreviver, ninguém está pensando em ganhar dinheiro, ninguém está pensando em gerar mais emprego, estamos realmente tentando sobreviver", enfatizou.

 

Suspender parte dos contratos e reduzir a carga horária dos funcionários mantidos foi possível a partir do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal por meio de Medida Provisória. Cláudia, porém, optou por não recorrer a empréstimo para pagamento da folha de pessoal.

Além do remanejamento de pessoal, Cláudia suspendeu o pagamento das contas de água, luz e gás. “Essas três contas, para nós, são muito altas”, enfatizou. Inicialmente, o governo do estado havia estabelecido, em decreto, que o fornecimento destes serviços não poderiam ser suspensos diante da inadimplência. Todavia, a concessionária de energia elétrica recorreu na Justiça e conseguiu derrubar a medida.

"Ficamos três dias sem luz. Eles cortaram [o fornecimento] enquanto ainda estava válido o decreto. Precisei pagar duas contas e fiquei no vermelho", contou. As demais contas ela pretende parcelar o pagamento.

A empresária também conseguiu negociar o aluguel de duas das três lojas – todas localizadas em Copacabana. Ela ainda insiste na negociação do terceiro aluguel. “Sem isso, a gente realmente não sobrevive. Aluguel em Copacabana representa o nosso maior custo, disparado. Se nós não tivermos essa redução no aluguel, a conta não fecha de forma alguma”, contou.

Investir para sobreviver

 

Apesar do aperto no caixa, Cláudia diz que se viu obrigada a investir no negócio. Sem clientes batendo nas portas das lojas, precisou ampliar o serviço delivery. Para isso, investiu em anúncios pagos nas redes sociais.

 

“Temos investido muito em propaganda de delivery. Atualmente, o delivery representa 95% do nosso faturamento. Apesar de não ser um momento bom para investir, mas é questão de sobrevivência”, destacou.

 

Ela ressaltou, ainda, que já tinha o delivery como serviço consolidado, o que lhe garante a permanência no ramo. “Se eu não tivesse o delivery antes, eu acho que eu já estaria de portas fechadas. Conheço algumas lavanderias que não tinham esse serviço e que agora estão sem trabalho”, enfatizou.

Rombo do turismo

 

A crise econômica provocada pela pandemia gerou um efeito em cascata, afetando diretamente a demanda por lavagem de roupas, segundo a empresária. Com mais pessoas trabalhando em home office, caiu a demanda por lavagem de roupas sociais, por exemplo. Para além disso, o impacto da pandemia na atividade turística a fez a rede de lavanderias perder seus maiores clientes.

 

“Prestamos serviços para hotéis e todos para os quais nós prestávamos serviço estão fechados. Nós temos um SPA também que era um cliente forte nosso que não está trabalhando, completamente fechado. Então, esse impacto foi muito grande”, destacou Cláudia.

Segundo a empresária, cerca de 40% de todo o seu faturamento antes da pandemia partia da atividade turística na cidade.

 

Sobrevivência do negócio

 

Questionada se dá como perdido o ano de 2020, Cláudia reiterou pensar somente na sobrevivência do negócio. Lucrar já não é uma perspectiva. O empenho maior é estabelecer estratégias para manter a rede de lavanderias diante do novo contexto social.

 

"O fato que eu acho que todo mundo já percebeu é que nós não vamos voltar ao que era antes. As coisas vão mudar. A impressão que me dá é que o comportamento das pessoas em geral vai sofrer alterações. Estamos aprendendo a viver de forma diferente e essa ameaça de saúde é uma coisa que não vai sumir do dia para a noite. As pessoas vão continuar receosas por mais que a coisa se estabilize e vai ser um ano de dificuldade, com certeza", disse a empresária.

 

Além das dificuldades financeiras, dado o contexto econômico do país, a empresária ainda vem enfrentando prejuízos por conta da segurança. Na madrugada de 2 de abril, uma de suas lojas foi arrombada. Conseguiu recuperar 60% do que foi levado pelos criminosos. Já na manhã do dia 26 de maio, foi surpreendida por nova tentativa de arrombamento. A fachada da mesma loja teve os vidros quebrados.

"É muito triste a gente tentar trabalhar, com dificuldade como está sendo, ter um prejuízo desses", lamentou. Para evitar novos danos, decidiu substituir os vidros por tijolos. "Gastar com uma obra de fachada o dinheiro que não temos no momento", disse.

Com mais de 30 anos no ramo, Cláudia destacou que ser empresária no Brasil sempre foi desafiador. A experiência, destacou, a preparou a ser resiliente.

 

"Eu acho que ser empresária no Brasil já é um desafio. Para mim, sempre foi um desafio. Nós já passamos por muitas crises, muitas dificuldades. Então, acho que a gente vem realmente de uma escola de desafios. Não só eu, como todos os pequenos empresários no Brasil. Termina que a gente vai aprendendo a lidar com a situação. Cai, levanta, e vai levando para frente", acrescentou.

 

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