O ANJO DA GUARDA DO CAMPUS DE PICOS

O ANJO DA GUARDA DO CAMPUS DE PICOS

Foto: Arquivo /

Por: Ozildo Batista de Barros.

O professor Egito me enviou uma foto com essa mensagem: “Lembra dele? Faleceu hoje. Tudo indica que foi covid.” 
O roto me era mesmo familiar. Fiquei tentando me alembrar... Mas com a certeza de que o conhecia.  
Ah! Lembrei!... Servidor do Campus da UFPI de Picos...
Sim. Dos serviços gerais. O “Bodim”, respondeu-me o amigo.
Quando fui dar a notícia a minha irmã Belinha, adotei a mesma estratégia de mostrar primeiro a foto. Mas Belinha já sabia e estava emotiva rememorando a vida e os feitos heroicos de “Bodim”.

– Perdemos uma testemunha viva da história da “movimento do ‘campus!’”...
O movimento político pela reabertura do “campus” de Picos que mobilizou a classe política, estudantil e da imprensa piauiense em 1987 é chamada simplesmente de “movimento do ‘campus’” pelos seus protagonistas, os estudantes da Universidade Federal do Piauí que tinham matrícula no “campus” de Picos, fechado pelo Conselho Universitário naquele ano.

– E como “Bodim” entrou no movimento?
Foi assim. O “movimento do ‘campus’” já era amplamente vitorioso, com a anulação do ato do Conselho Universitário pela Justiça Federal, a doação do terreno pela Comunidade de Picos e a liberação dos recursos para a construção da sede do “campus” pelo Ministro da Educação Hugo Napoleão, além da tomada de consciência da necessidade e da importância do mesmo pela sociedade piauiense mobilizada. Mas, apesar disso tudo, havia resistência à efetividade do funcionamento do “campus” de Picos, como, aliás, ainda hoje existe. Quem era contra? Quem ainda hoje é contra a universidade? Ora, é claro que ninguém quer assumir posição tão hedionda de ser contra o ensino e o saber. Então, agem nos sombras.

Nesse contexto, surgiu a figura de “Bodinho” como o verdadeiro Anjo da Guarda do “campus” de Picos da Universidade Federal do Piauí. Negro, tímido, malvestido, a pequena estatura física e esquálida ia tomando chegada, ficando perto dos estudantes que mantinham presença constante no terreno em que seria construído construídas as instalações do “campus”. Começou com a construção do marco de lançamento da pedra fundamental. Seu “Bodim” se oferecia para vigiar os materiais, tijolos, carrinho de mão, cimento, para que ninguém viesse mexer. Naquele mesmo ano, a Prefeitura distribuiu os terrenos contíguas ao que era destinado ao campus. Uma multidão começou a construir barracos nos terrenos doados e já cogitavam invadir aquela área do Campus. “Bodim” percebeu o movimento e avisou para os estudantes do “movimento do campus”, que logo autorizaram “Bodim” providenciar a construção às pressas de uma cerca.

Sem ganhar qualquer remuneração, “Bodim” se transformou num auxiliar de serviços gerais dos estudantes, sempre disponível. Morando ali perto, colocou também as modestas instalações de sua casa na empreitada dos estudantes e professores, guardava livros, faixas, esses coisas do “movimento do ‘campus’”, até que um dos estudantes sugeriu que o seu nome fosse apresentado pela Comissão do Movimento ao Magnífico Reitor, a fim de que o mesmo conseguisse uma colocação de “Bodim” nos quadros de servidores. E foi o que ocorreu, mantendo sempre a mesma postura de serviço com os atributos da discrição e da inteira disponibilidade. Um enorme ser humano, uma alma elevada às alturas, um anjo, o Anjo da Guarda do Campus de Picos. Que receba das mãos de Deus o prêmio da boa aventurança.

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