‘Estadão’: Piauí, a última fronteira agrícola do Brasil

‘Estadão’: Piauí, a última fronteira agrícola do Brasil

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<div>Na edi&ccedil;&atilde;o eletr&ocirc;nica do Jornal &quot;O Estado de S&atilde;o Paulo&quot; deste domingo (23/01) uma mat&eacute;ria sobre a expans&atilde;o agr&iacute;cola piauiense mostra que o estado virou a &uacute;ltima fronteira agr&iacute;cola do Pa&iacute;s, reduto de endinheirados adeptos da alta tecnologia, m&aacute;quinas e avi&otilde;es de &uacute;ltima gera&ccedil;&atilde;o. A reportagem mostra tamb&eacute;m a tradi&ccedil;&atilde;o da agricultura familiar.</div> <div>&nbsp;</div> <div><strong><em>Veja na &iacute;ntegra a reportagem:</em></strong></div> <div>&nbsp;</div> <div>Ren&eacute;e Pereira - O Estado de S.Paulo</div> <div>&nbsp;</div> <div>No comando de uma retroescavadeira rec&eacute;m-comprada, o fazendeiro Corn&eacute;lio Sanders, dono de quase 50 mil hectares no sul do Piau&iacute;, brigava com a tecnologia da nova aquisi&ccedil;&atilde;o para remover uma pedra no meio de sua propriedade. Apesar de n&atilde;o conhecer bem os sistemas ultramodernos da m&aacute;quina, o ga&uacute;cho, natural da cidade de N&atilde;o-me-Toque, n&atilde;o quis perder tempo. Deixou o ambiente confort&aacute;vel do escrit&oacute;rio para tr&aacute;s e partiu para o campo, naquela tarde quente e abafada de dezembro. Queria deixar tudo preparado para a chuva que prometia cair ainda naquela noite para, no dia seguinte, iniciar a planta&ccedil;&atilde;o.</div> <div>&nbsp;</div> <div>No Piau&iacute;, &eacute; assim. Bastam algumas nuvens escuras no c&eacute;u para os agricultores come&ccedil;arem a correr na prepara&ccedil;&atilde;o de m&aacute;quinas, sementes e terra. Com o calor intenso, a umidade do solo acaba r&aacute;pido. Por isso, algumas horas ap&oacute;s a chuva, eles precisam iniciar o plantio. Caso contr&aacute;rio, ter&atilde;o de esperar at&eacute; a pr&oacute;xima tempestade e correr o risco de perder o tempo da safra. &quot;Aqui o clima &eacute; peculiar. A janela para a opera&ccedil;&atilde;o &eacute; muito curta, comparada a outros locais&quot;, diz Gregory Sanders, de 31 anos, filho de Corn&eacute;lio, que chegou a Uru&ccedil;u&iacute; (maior produtor do Piau&iacute;) em 2001.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Ele conta que a ida do pai para o Piau&iacute;, depois de passar por Mato Grosso e Minas Gerais, foi uma decis&atilde;o corajosa e arriscada. Afinal, o Estado vivia embalado pelo estigma de &quot;terra pobre que nada produz&quot;. Hoje o mantra &eacute; outro. O Piau&iacute; virou a &uacute;ltima fronteira agr&iacute;cola do Pa&iacute;s, reduto de endinheirados adeptos da alta tecnologia, m&aacute;quinas e avi&otilde;es de &uacute;ltima gera&ccedil;&atilde;o.</div> <div>&nbsp;</div> <div><br /> Um retrato disso foi mostrado em recente relat&oacute;rio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), que p&ocirc;s o Piau&iacute; na lideran&ccedil;a dos Estados com maior crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008. A expans&atilde;o foi de 8,8%, acima da m&eacute;dia nacional de 5,2%. Boa parte do desempenho se deveu aos resultados positivos da agricultura, cuja participa&ccedil;&atilde;o na produ&ccedil;&atilde;o nacional quase dobrou - de 0,6% para 1,1%.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Ainda &eacute; pouco diante das grandes pot&ecirc;ncias nacionais, como Mato Grosso e Goi&aacute;s. Mas o agroneg&oacute;cio apenas come&ccedil;ou a engatinhar no Piau&iacute;. Segundo c&aacute;lculos dos produtores, s&oacute; 12% do potencial do Estado - calculado em 3 milh&otilde;es de hectares - foi explorado, a maioria com soja. Entre 2000 e 2009, a &aacute;rea plantada cresceu 593%, contra a m&eacute;dia nacional de 59%. Detalhe: o pre&ccedil;o da terra ainda &eacute; considerado uma pechincha na regi&atilde;o, apesar da demanda elevada.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Enquanto no sul do Pa&iacute;s um hectare custa em torno de R$ 10 mil, no Piau&iacute; n&atilde;o passa de R$ 2 mil, comenta Ribamar Mateus, da empresa imobili&aacute;ria JRM. &quot;O pagamento pode ser dividido em tr&ecirc;s vezes num prazo de dois anos&quot;, diz o consultor, nascido em Uru&ccedil;u&iacute;. Segundo ele, o pre&ccedil;o da terra no sul do Piau&iacute; j&aacute; foi bem mais barato, quase de gra&ccedil;a. &quot;Tem muita gente que comprou fazendas aqui pelo pre&ccedil;o de uma carteira de cigarro (o hectare)&quot;, lembra.</div> <div>&nbsp;</div> <div>De olho nesse potencial, v&aacute;rios investidores - muitos estrangeiros - est&atilde;o desembarcando na regi&atilde;o. Segundo dados do Instituto Nacional de Coloniza&ccedil;&atilde;o e Reforma Agr&aacute;ria (Incra), nos &uacute;ltimos tr&ecirc;s anos, a venda de terras no Piau&iacute; para estrangeiros cresceu 138% (de 24.619 para 58.700 hectares) - quinto maior vendedor do Pa&iacute;s. O grupo argentino Los Grobo foi um dos primeiros a chegar por l&aacute;. A americana Bunge tamb&eacute;m demarcou territ&oacute;rio e construiu uma unidade de processamento de soja em Uru&ccedil;u&iacute;. Agora quem est&aacute; de olho nas terras piauienses s&atilde;o os chineses, que andam sondando oportunidades.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Brasileiros. Mas, apesar do interesse estrangeiro, s&atilde;o os brasileiros que est&atilde;o desbravando o Piau&iacute;. A maioria tentou a sorte no Centro-Oeste antes de se aventurar por terras nordestinas. Um deles &eacute; o paranaense Altair Fianco, filho de agricultor familiar, natural de Pato Branco. Depois de uma breve passagem por S&atilde;o Gabriel do Oeste (MS), onde plantou soja em &aacute;rea arrendada, ele partiu para o Piau&iacute;. Em 1989, desembarcou em Uru&ccedil;u&iacute; com a mulher e dois filhos. Comprou 9 mil hectares e montou sua fazenda de soja e milho.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Hoje Fianco tem 1.700 hectares de &aacute;rea plantada, mas a inten&ccedil;&atilde;o &eacute; atingir 5 mil hectares nos pr&oacute;ximos anos. &quot;Procuro n&atilde;o me endividar. Prefiro fazer tudo aos poucos, de acordo com as minhas condi&ccedil;&otilde;es.&quot; O fazendeiro garante que a produtividade das terras do Piau&iacute; j&aacute; n&atilde;o perde em nada para as planta&ccedil;&otilde;es de Mato Grosso e Paran&aacute;. &quot;Hoje consigo tirar 60 sacas de soja por hectare. No caso do milho, consegue-se at&eacute; 150 sacas&quot;, comemora ele, que recebeu, em 2010, o t&iacute;tulo de cidad&atilde;o piauiense.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A fam&iacute;lia Sanders chegou a Uru&ccedil;u&iacute; quase uma d&eacute;cada mais tarde para ser pioneira na planta&ccedil;&atilde;o de algod&atilde;o, sem deixar de lado outras culturas. Dos quase 50 mil hectares da Fazenda Progresso, 22.900 est&atilde;o ocupados com soja, milho, algod&atilde;o e eucalipto. Embora a soja ocupe uma fatia maior da propriedade, &eacute; o algod&atilde;o que rende mais, diz Gregory, que hoje praticamente comanda a Fazenda Progresso, enquanto o pai dirige os neg&oacute;cios em Minas. Em 2005, inaugurou uma usina de beneficiamento de algod&atilde;o, que abastece a ind&uacute;stria t&ecirc;xtil do Nordeste. A expectativa para os pr&oacute;ximos anos &eacute; elevar a &aacute;rea plantada para 27 ou 28 mil hectares.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Um dos &uacute;ltimos a apostarem no Piau&iacute; foi a fam&iacute;lia Ioschpe. Em 2004, depois de ouvir maravilhas sobre o Estado, o empres&aacute;rio Ivoncy Ioschpe comprou 14 mil hectares na regi&atilde;o. Tr&ecirc;s anos mais tarde, decidiu criar fazendas e contratou a Insolo, uma consultoria que desenvolvia tecnologia de alta precis&atilde;o para o Cerrado. A parceria deu t&atilde;o certo que, em 2008, a Insolo foi comprada pelos Ioschpes e se tornou a Insolo Agroindustrial, a maior investidora do Piau&iacute;.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Hoje a empresa tem 41 mil hectares de &aacute;rea plantada e produz 130 mil toneladas de gr&atilde;os (soja, milho, arroz e sorgo). O objetivo &eacute; alcan&ccedil;ar 120 mil hectares em quatro anos - 20 mil a cada ano. Isso significar&aacute; produzir 400 mil toneladas de gr&atilde;os. At&eacute; l&aacute;, ser&atilde;o investidos US$ 400 milh&otilde;es, boa parte em tecnologia de alta precis&atilde;o, diz o presidente da empresa, Salom&atilde;o Ioschpe. &quot;Estamos produzindo numa regi&atilde;o com voca&ccedil;&atilde;o para a agricultura em grande escala com uso intensivo de tecnologia. O Piau&iacute; tem tudo para se tornar a maior regi&atilde;o para desenvolvimento de gr&atilde;os no Pa&iacute;s.&quot;</div>
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