De quem é culpa agora?

De quem é culpa agora?

/

<div> <p>O recente deferimento ao acusado Jos&eacute; Adimar Jesus da Silva ao regime semi-aberto por parte do juiz substituto da Vara de Execu&ccedil;&otilde;es Penais (VEP) do Tribunal de Justi&ccedil;a do Distrito Federal e Territ&oacute;rios (TJDFT), Luiz Carlos de Miranda, trouxe pela m&iacute;dia in&uacute;meros questionamentos &agrave; Justi&ccedil;a, m&aacute;xime pelo cumprimento da&nbsp;Lei de Execu&ccedil;&otilde;es Penais pelo douto&nbsp;magistrado.</p> <p>Recolhido novamente &agrave; pris&atilde;o,&nbsp; acabamos de ver pelos notici&aacute;rios que o pedreiro acusado da morte de seis jovens em Luzi&acirc;nia-GO, acabou de ser encontrado enforcado na pris&atilde;o onde se achava recolhido.</p> </div> <div>&nbsp;</div> <div>Deste fato &eacute; preciso n&atilde;o olvidar e que&nbsp;fique bem claro que magistrados n&atilde;o fazem leis e nem administram pres&iacute;dios. Qualquer cr&iacute;tica fora disso &eacute; mordaz, injusta e incoerente.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Este lament&aacute;vel epis&oacute;dio ilustra muito bem como&nbsp;algumas autoridades pol&iacute;ticas, dia ap&oacute;s dia, desejam mitigar as&nbsp;fun&ccedil;&otilde;es e prerrogativas judicantes, &eacute; olhar e ver. Passam para a grande m&iacute;dia a imagem de que magistrados s&atilde;o&nbsp;irrespons&aacute;veis, colocaram sob a um controle externo do judici&aacute;rio com a cria&ccedil;&atilde;o do CNJ, e agora querem se imiscuir at&eacute; nas&nbsp;decis&otilde;es de um outro poder, mais que isso, querem&nbsp; punir os ju&iacute;zes por suas senten&ccedil;as e decis&otilde;es, e o pior, transformam em r&eacute;us do dia para noite frente a um microfone ou holofote.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Isso n&atilde;o est&aacute; certo, n&atilde;o &eacute; &eacute;tico e constitui inequ&iacute;voca inger&ecirc;ncia de um poder em outro, gravame&nbsp;vedado pela Constitui&ccedil;&atilde;o.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Frente a tais fatos, perguntas&nbsp;surgem necess&aacute;rias:&nbsp; Qual a magistratura que se deseja? Quem nessa moldura de desatinos far&aacute; op&ccedil;&atilde;o pela carreira judicante? Onde est&aacute; o livre convencimento do magistrado para decidir? E o direito positivo, o que&nbsp;far&aacute; o juiz com ele?&nbsp;A honorabilidade&nbsp;da magistratura, do juiz, ser&aacute; algo qualquer? Como fica o julgador&nbsp;depois do fato perante sua fam&iacute;lia e&nbsp;seus jurisdicionados?</div> <div>&nbsp;</div> <div>Magistrados n&atilde;o foram eleitos pelo voto, s&atilde;o pessoas preparadas, submetidas a rigorosos concursos de provas t&eacute;cnicas e de t&iacute;tulos, diferente daqueles empossados pelo voto popular, sem embargo das grandes culturas que tamb&eacute;m ali assumem suas respeit&aacute;veis fun&ccedil;&otilde;es legislativas ou executivas.</div> <div>&nbsp;</div> <div>S&atilde;o perguntas&nbsp;como tais&nbsp;a exigir respostas s&eacute;rias e respons&aacute;veis; um estado democr&aacute;tico de direito -&nbsp;do qual o judici&aacute;rio &eacute;&nbsp;o guardi&atilde;o -, n&atilde;o poder&aacute; jamais ser vulnerabilizado&nbsp;por&nbsp;intromiss&otilde;es e acusa&ccedil;&otilde;es ao decidir dos seus&nbsp;ju&iacute;zes; se houve erro, indigna&ccedil;&atilde;o &agrave; senten&ccedil;a, pois que se recorra desta, trivialidade conhecida&nbsp;a qualquer iniciante do curso de direito.</div> <div>&nbsp;</div> <div>O que n&atilde;o se tolera &eacute; a cr&iacute;tica mordaz e despropositada com acinte &agrave; supremacia da senten&ccedil;a, ensejando um&nbsp;impl&iacute;cito louvor &agrave;&nbsp;anarquia.&nbsp;Sabemos que todas as vezes que o judici&aacute;rio foi apequenado, ultrajado, a ditadura ali se instalou; primeiro mina-se o judici&aacute;rio e seus julgadores, para logo em seguida o arb&iacute;trio passar, e ent&atilde;o, como a hist&oacute;ria mostra,&nbsp;o perigo &eacute; real e mora ao lado.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Situa&ccedil;&otilde;es como tais impingidas &agrave; magistratura, o nervo exposto n&atilde;o &eacute; somente das&nbsp;pessoas que a integram, mas da pr&oacute;pria&nbsp;democracia que&nbsp;corre graves perigos se condutas como tais come&ccedil;ar a ganhar terrenos, dando&nbsp;lugar &agrave; areia movedi&ccedil;a a tudo quanto foi&nbsp;conquistado pelo sofrido povo brasileiro.</div> <div><br /> Muitos desses cr&iacute;ticos de plant&atilde;o, visivelmente sem conhecimento qualquer&nbsp;de direito ou de justi&ccedil;a, n&atilde;o h&aacute; como negar,&nbsp;escolheram um sapato grande demais para seu p&eacute;, e por querer exercer influ&ecirc;ncia, sem aceitar responsabilidades, sempre no af&atilde; de descobrir o errado e nunca o certo&nbsp;- como dizia John Kennedy -, num ano eleitoral, jogam para uma plat&eacute;ia com sede de vingan&ccedil;a, e ent&atilde;o por n&atilde;o saber distinguir a quem, jogam a&nbsp;todos no liquidificador. Essa cultura no Brasil n&atilde;o mais pode&nbsp; prosperar, &eacute; recrudescer no passado, &eacute; fragilizar o Estado e suas institui&ccedil;&otilde;es.</div> <div>&nbsp;</div> <div>O que se extrai de tudo isso &eacute; que n&atilde;o sabem o que fazem, nem o que dizem, por isso mesmo e infelizmente os resultados n&atilde;o poder&atilde;o ser diferentes.</div> <div><br /> Urge que as associa&ccedil;&otilde;es de classe da magistratura estejam de prontid&atilde;o, usem dos&nbsp;meios legais&nbsp;cab&iacute;veis,&nbsp;caso contr&aacute;rio teremos uma magistratura acossada pelo medo, pelo cobardia e receosa por decretar uma preventiva, expedir uma liminar ou um alvar&aacute; de soltura, e isso seria o c&uacute;mulo do absurdo, a pr&oacute;pria derrocada do Estado.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Nos &uacute;ltimos tempos temos assistido a velados e dissimulados atentados contra a liberdade do decidir, a internet a&iacute; est&aacute; para mostrar v&aacute;rios deles. Se prende um grande, o mundo desce sobre o&nbsp;juiz; se libera, um miser&aacute;vel, idem. Onde est&aacute;&nbsp;a supremacia do&nbsp;Poder Judici&aacute;rio da nossa Rep&uacute;blica e do direito positivo? Lamentavelmente o recurso hoje &eacute; trucidar o julgador e impor-lhe o terror pela cr&iacute;tica acerba e injusta ou de amea&ccedil;as ao CNJ. Os ju&iacute;zes precisam da cr&iacute;tica construtiva sim, mas bem antes de posturas respons&aacute;veis com o fabrico de leis adequadas e justas &agrave; nossa realidade&nbsp;e de um executivo que cumpra o papel de ressocializar o&nbsp;condenado,&nbsp;n&atilde;o esquecendo de lhe proteger e dar dignidade, sem olvidar&nbsp; tamb&eacute;m o exausto&nbsp;cidad&atilde;o contribuinte exposto &agrave;&nbsp; incontrol&aacute;vel viol&ecirc;ncia e inseguran&ccedil;a, recluso de si mesmo entre grades e&nbsp;cercas el&eacute;tricas.</div> <div><strong>&nbsp;</strong></div> <div><strong>* Carlos Hamilton Bezerra Lima</strong></div> <div><strong>Juiz de Direito Diretor da ANAMAGES Regi&atilde;o Nordeste</strong></div>
Compartilhe:

Faça seu comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos marcados são obrigatórios *