O povo, a Polícia e o marginal.

O povo, a Polícia e o marginal.

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<div> <p>Infelizmente grande percentagem da popula&ccedil;&atilde;o brasileira n&atilde;o tem a Pol&iacute;cia como sua amiga ou sua parceira no combate ao crime. As pessoas apenas usam os policiais quando precisam e logo os descartam. Para muitos Policia e bandido se confundem e s&atilde;o at&eacute; palavras sin&ocirc;nimas do submundo da nossa sociedade.</p> <p>A frase popular de autor desconhecido sempre &eacute; vivenciada tristemente por todas as Policias do Brasil: <strong>&ldquo;Quando algu&eacute;m est&aacute; em perigo, pensa em Deus e clama</strong> <strong>pela pol&iacute;cia. Passado o perigo, se esquece de Deus e execra a pol&iacute;cia&rdquo;.</strong></p> </div> <div> <p>Aliados a tais pensamentos insensatos os governos pouco investem nas suas Pol&iacute;cias. A seguran&ccedil;a p&uacute;blica sempre foi esquecida e sucateada atrav&eacute;s dos anos. As Pol&iacute;cias sempre foram relegadas ao segundo plano, principalmente no que tange a valoriza&ccedil;&atilde;o profissional dos seus membros. Com raras exce&ccedil;&otilde;es, poucas conquistas foram alcan&ccedil;adas pelas classes policiais em alguns Estados da Na&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Entretanto, na &aacute;rea penal, destarte para diversos tipos de crimes, v&aacute;rios benef&iacute;cios surgiram e alcan&ccedil;aram os seus praticantes. O avan&ccedil;o nesse sentido foi significativo para os transgressores da Lei e dentre tantas conquistas destacam-se: A regress&atilde;o das penas com os consequentes cumprimentos em regimes fechado, semi-aberto e aberto, a pris&atilde;o domiciliar, a liberdade condicional, o indulto de Natal (aquele benef&iacute;cio em que boa parte dos detentos vai passar em casa e nunca retornam), as penas alternativas e at&eacute; o auxilio-reclus&atilde;o que j&aacute; existe para dar prote&ccedil;&atilde;o aos dependentes dos presos, dado as suas impossibilidades de prover a subsist&ecirc;ncia dos mesmos. Tais benef&iacute;cios chegaram para o bem dos delinq&uuml;entes mesmo contra a vontade popular e para sobrecarregar o trabalho policial em v&aacute;rios sentidos.</p> </div> <div> <p>Enquanto para os delinq&uuml;entes seus direitos evolu&iacute;ram, para os Policiais estagnaram e at&eacute; regrediram, vez que at&eacute; os pr&oacute;prios direitos humanos que na teoria s&atilde;o para todos, na pr&aacute;tica pouco lhes alcan&ccedil;am, ao passo que, quanto ao povo, continua a sua triste sina do desamparo quase que absoluto.</p> <p>Sem se aprofundar muito nesta quest&atilde;o social e s&oacute; para citar um &iacute;ndice, o do desemprego, &eacute; triste constata&ccedil;&atilde;o que recentemente houvera inscri&ccedil;&atilde;o em concurso para Gari no Rio de Janeiro (n&atilde;o desfazendo dessa classe, mas por se tratar de uma profiss&atilde;o que requer a m&iacute;nima cultura para exerc&ecirc;-la) e ent&atilde;o, por falta de op&ccedil;&atilde;o, 1.026 dos mais de 100 mil inscritos possu&iacute;am n&iacute;vel Superior completo, dentre os quais 45 com T&iacute;tulos de Doutorado e 22 com Mestrado, ressaltando que tudo isso por uma busca de um sal&aacute;rio m&iacute;nimo, enquanto que o auxilio-reclus&atilde;o atinge bem mais do que isso para os familiares dos presos e que em contra-senso, por ironia do destino para os familiares das suas pr&oacute;prias v&iacute;timas, destarte para as v&iacute;timas de homic&iacute;dio e latroc&iacute;nio, s&oacute; lhes restam as lembran&ccedil;as dos seus entes queridos quando em vida. &nbsp;</p> </div> <div> <p>Buscando algo ilustrativo para o fiel dessa balan&ccedil;a incompreens&iacute;vel encontrei publicado em diversos sites, o artigo exemplo intitulado <strong>CARTA A UM BANDIDO</strong> escrito pelo colega Delegado de Pol&iacute;cia Civil do Estado do Par&aacute;, WILSON RONALDO MONTEIRO, que agora o transcrevo na &iacute;ntegra:</p> <p><strong>&ldquo;Senhor Bandido,</strong></p> </div> <div> <p><strong>Esse termo de senhor que estou usando &eacute; para evitar que macule a sua imagem ao lhe chamar de bandido, marginal, delinq&uuml;ente ou outro atributo que possa ferir sua dignidade, conforme orienta&ccedil;&otilde;es de entidades de defesa dos Direitos Humanos.</strong></p> <p><strong>Durante vinte e quatro anos de atividade policial, tenho acompanhado suas &ldquo;conquistas&rdquo; quanto a preserva&ccedil;&atilde;o dos seus direitos, pois os cidad&atilde;os e especialmente n&oacute;s policiais estamos atrelados &agrave;s suas vit&oacute;rias, ou seja, quanto mais direito voc&ecirc; adquire, maior &eacute; nossa obriga&ccedil;&atilde;o de lhe dar seguran&ccedil;a e de lhe encaminhar para um julgamento justo, apesar de muitas vezes voc&ecirc; n&atilde;o dar esse direito as suas v&iacute;timas. Todavia, n&atilde;o cabe a mim contrariar a lei, pois ensinaram-me que o Direito Penal &eacute; a ci&ecirc;ncia que protege o criminoso, assim com o Direito do trabalho protege o trabalhador, e assim por diante.</strong></p> </div> <div> <p><strong>Questiono que hoje em dia voc&ecirc; tem mais aten&ccedil;&atilde;o do que muitos cidad&atilde;os e policiais. Antigamente voc&ecirc; se escondia quando avistava um carro de pol&iacute;cia; hoje, voc&ecirc; atira, porque sabe que numa troca de tiros o policial sempre ser&aacute; irrespons&aacute;vel em revidar. N&atilde;o existe bala perdida, pois a mesma sempre &eacute; encontrada na arma de um policial ou pelo menos sua arma &eacute; a primeira a ser suspeita.</strong></p> <p><strong>Sei que voc&ecirc; &eacute; um pobre coitado. Quando encarcerado, reclama que n&atilde;o possu&iacute;mos depend&ecirc;ncia digna para voc&ecirc; se ressocializar. Por&eacute;m, quero que saiba que constru&iacute;mos mais penitenci&aacute;rias do que escolas ou espa&ccedil;o social, ou seja, gastamos mais dinheiro para voc&ecirc; voltar ao seio da sociedade de forma digna do que com seguran&ccedil;a p&uacute;blica para que a sociedade possa viver com dignidade.</strong></p> </div> <div> <p><strong>Quando voc&ecirc; mant&eacute;m um ref&eacute;m, s&atilde;o tantas suas exig&ecirc;ncias que deixam qualquer grevista envergonhado. Presen&ccedil;a de advogados, imprensa, colete &agrave; prova de balas, parentes, at&eacute; ju&iacute;zes e promotores voc&ecirc; consegue que saiam de seus gabinetes para proteg&ecirc;-los. Mas se isso &eacute; seu direito, vamos respeit&aacute;-lo.</strong></p> <p><strong>Enfim, espero que seus direitos de marginal n&atilde;o se ampliem, pois nossa obriga&ccedil;&atilde;o tamb&eacute;m aumentar&aacute;. Precisamos nos proteger. Ter nossos direitos, n&atilde;o lhe matar, mas sim de viver sem medo de ser um policial.</strong></p> </div> <div> <p><strong>Dois colegas seus morreram, assim como dois de nossos policiais sucumbiram devido ao excesso de prote&ccedil;&atilde;o aos seus direitos. Rogo para que o inqu&eacute;rito policial instaurado, o qual certamente ser&aacute; acompanhado por um membro do Minist&eacute;rio P&uacute;blico e outro da Ordem dos Advogados do Brasil, n&atilde;o seja encerrado com a conclus&atilde;o de que houve execu&ccedil;&atilde;o, ou melhor, viola&ccedil;&atilde;o aos Direitos Humanos, afinal, voc&ecirc;s morreram em pleno exerc&iacute;cio de seus direitos.&rdquo; </strong></p> <p>Em verdade os nossos policiais s&atilde;o verdadeiros her&oacute;is que vivem tudo isso e que d&atilde;o as suas pr&oacute;prias vidas em defesa da sociedade que em contra-senso, ao inv&eacute;s de aplaudir as suas a&ccedil;&otilde;es e ajudar a resgatar as suas dignidades que os governantes fizeram perder ao longo dos tempos ainda cometem a tamanha insensatez de cr&iacute;ticas descabidas e atitudes insanas que s&oacute; fortalecem a marginalidade e as a&ccedil;&otilde;es em prol dessa mesma classe.</p> </div> <div> <p>A sociedade brasileira que tamb&eacute;m &eacute; uma sobrevivente a tais aberra&ccedil;&otilde;es, precisa sentir a Pol&iacute;cia &agrave; luz do valor da amizade, funcionando como sua parceira contra o crime e contra certos desmandos, enquanto que, por sua vez, o poder p&uacute;blico deve valorizar mais a sua Policia, e por outro lado, tentar de uma melhor maneira recuperar os delinq&uuml;entes quando dos seus crimes nas suas segrega&ccedil;&otilde;es, n&atilde;o com tantos benef&iacute;cios, com direitos exacerbados, e sim com efetivos e verdadeiros projetos de ressocializa&ccedil;&atilde;o dando-lhes ocupa&ccedil;&otilde;es, cursos profissionalizantes e trabalho ao inv&eacute;s da ociosidade recompensada e breve liberdade para retorno ao crime.</p> <p><em><strong>*(Delegado de Policia. P&oacute;s-Graduado em Gest&atilde;o Estrat&eacute;gica de Seguran&ccedil;a Publica pela Universidade Federal de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br</strong></em></p> </div>
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