A Polícia e o recente cúmulo do absurdo.

A Polícia e o recente cúmulo do absurdo.

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<div>O Brasil assistiu at&ocirc;nito e incr&eacute;dulo, a divulga&ccedil;&atilde;o na imprensa televisada, falada, escrita e virtual, sobre um fato policial diferente dos tantos outros relacionados ao mesmo tipo penal que ocorre diariamente em todo lugar: O roubo ocorrido contra uma comerciante no interior de S&atilde;o Paulo certamente teria passado despercebido se n&atilde;o tivesse ocorrido dentro de uma Delegacia de Pol&iacute;cia, em tese, um dos lugares mais seguros que h&aacute;.</div> <div> <p>A cidad&atilde; de posse de uma quantia superior a R$ 13 mil reais acondicionados em sua bolsa, teria se dirigido at&eacute; a Delegacia de Salto, na regi&atilde;o de Sorocaba, em S&atilde;o Paulo, no sentido de registrar uma ocorr&ecirc;ncia policial dando conta de que o seu n&uacute;mero de telefone celular estaria clonado, e ali, na sala de espera, fora abordada por um marginal que tomou &agrave; for&ccedil;a a sua bolsa.</p> <p>Desprende-se das diversas reportagens que o delinq&uuml;ente que provavelmente vinha seguindo a comerciante desde a retirada da referida quantia em banco, agrediu e roubou a bolsa da v&iacute;tima, tudo isso ocorrido no interior dessa Delegacia de Policia em que estavam presentes, al&eacute;m de outras pessoas comuns, tr&ecirc;s funcion&aacute;rios, provavelmente dos quadros da Policia Civil daquele Estado, que assistiram im&oacute;veis e sem esbo&ccedil;arem quaisquer tipos de rea&ccedil;&atilde;o ao ato criminoso que lhes eram obrigat&oacute;rios devido &agrave;s suas supostas fun&ccedil;&otilde;es policiais inerentes.</p> </div> <div> <p>Consta que a v&iacute;tima reagiu ao assalto e chegou a entrar em luta corporal com o seu agressor por duas vezes, dado ao fato de que na primeira investida ela teria levado a melhor e conseguido jogar a sua bolsa por cima do balc&atilde;o justamente para onde estavam dois funcion&aacute;rios da Delegacia, destarte, que na segunda investida e tentativa para retomar a sua bolsa das m&atilde;os do bandido que ainda tivera tempo suficiente para pular o balc&atilde;o de ida e volta, fora a &nbsp;v&iacute;tima refreada da sua a&ccedil;&atilde;o pela voz do marginal que ordenara ao seu comparsa que estava do lado de fora do recinto para atirar na mesma, fato que n&atilde;o ocorreu.</p> <p>Momentos depois, a reativa e corajosa vitima ainda indignada, e com toda raz&atilde;o, desabafou para um canal de televis&atilde;o que cobriu o fato:</p> </div> <div> <p><strong>- O Escriv&atilde;o depois disse que n&atilde;o intercedeu porque ele achou que era uma briga de marido e mulher. Eu achei o c&uacute;mulo do absurdo. Fosse briga de marido e mulher, fosse briga de vizinho, o m&iacute;nimo que eles podiam fazer era intervir. Eu posso ser assaltada no supermercado, na rua, no cinema, na pra&ccedil;a, na cal&ccedil;ada, no port&atilde;o da minha casa, mas nunca dentro de uma Delegacia.</strong></p> <p>O trabalho do Policial &eacute; &aacute;rduo, perigoso e estressante, por isso, exige prud&ecirc;ncia, perseveran&ccedil;a, amor a profiss&atilde;o e capacidade de concentra&ccedil;&atilde;o agu&ccedil;ada com equil&iacute;brio e razoabilidade nos seus atos para que n&atilde;o ocorram os deslizes, mas nesse fato, se &eacute; como fora pintado, teriam realmente os referidos servidores obriga&ccedil;&atilde;o de intercederem no evento criminoso mesmo que se isso valesse as suas pr&oacute;prias vidas.</p> </div> <div>Tal fato altamente negativo atinge em cheio todas as Institui&ccedil;&otilde;es policiais do nosso pa&iacute;s, vez que o povo nunca faz distin&ccedil;&atilde;o entre as pol&iacute;cias. Para a esmagadora parte da popula&ccedil;&atilde;o a Pol&iacute;cia &eacute; uma s&oacute; e dela todos esperam a prote&ccedil;&atilde;o devida conforme estabelece a Constitui&ccedil;&atilde;o Federal.</div> <div> <p>&Eacute; evidente que os tr&ecirc;s funcion&aacute;rios que estavam presentes na Delegacia devem ser investigados com toda a isen&ccedil;&atilde;o ou rigor poss&iacute;vel pela Corregedoria de Policia Civil de S&atilde;o Paulo, dando-lhes todos os direitos de ampla defesa inerentes e, se forem considerados culpados, punidos na forma das Leis Administrativa e Penal.</p> <p>&Eacute; evidente tamb&eacute;m que a v&iacute;tima deve ser reembolsada do seu preju&iacute;zo financeiro pelo Estado, n&atilde;o com um processo demorado e burocr&aacute;tico que leva anos para resolu&ccedil;&atilde;o com recursos e tudo mais, e sim, atrav&eacute;s de uma A&ccedil;&atilde;o r&aacute;pida que restabele&ccedil;a a v&iacute;tima e ao povo o respeito pelas nossas institui&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas, vez que de resto, ao plano geral, no fundo, o Estado &eacute; o principal respons&aacute;vel por tal ocorrido por n&atilde;o dispor de Policiais suficientes para guarnecer a Delegacia.</p> </div> <div> <p>Do crime de roubo praticado por tais marginais, que pode decorrer outros crimes inerentes aos funcion&aacute;rios p&uacute;blicos presentes demonstram a vulnerabilidade existente em nossas Pol&iacute;cias. N&atilde;o s&oacute; na Pol&iacute;cia Civil daquele Estado, mas em todas as Pol&iacute;cias do Brasil que foram corro&iacute;das por v&aacute;rias eras, em diversos Governos passados.</p> <p>A seguran&ccedil;a p&uacute;blica sempre foi esquecida e sucateada atrav&eacute;s dos anos. As Pol&iacute;cias sempre foram relegadas ao segundo plano, principalmente no que tange a valoriza&ccedil;&atilde;o profissional dos seus membros. Com raras exce&ccedil;&otilde;es, poucas conquistas foram alcan&ccedil;adas pelas classes policiais em alguns Estados da Na&ccedil;&atilde;o.</p> </div> <div>O tempo passa e com ele a nossa credibilidade perante a opini&atilde;o do povo vai ficando cada vez mais distante, com isso as nossas lutas s&atilde;o ingl&oacute;rias. Os nossos Projetos de Emendas a Constitui&ccedil;&atilde;o se arrastam por anos a fio no Congresso Nacional sem solu&ccedil;&atilde;o alguma. O povo j&aacute; n&atilde;o confia mais na sua Pol&iacute;cia e, fatos negativos como esse assalto dentro de uma Delegacia de Pol&iacute;cia nos leva cada vez mais para baixo.</div> <div> <p>Com a credibilidade policial em baixa aumentam-se as estat&iacute;sticas enganosas colocando os n&iacute;veis da viol&ecirc;ncia urbana em melhores patamares, quando na verdade &eacute; o contr&aacute;rio, pois o povo deixa de registrar principalmente ocorr&ecirc;ncias de fraudes, furtos e roubos por n&atilde;o mais acreditar na sua Pol&iacute;cia.</p> <p>Com isso os Governos repassam esses dados n&atilde;o condizentes como se verdadeiros fossem para o povo enaltecendo as suas gest&otilde;es de seguran&ccedil;a p&uacute;blica e at&eacute; gastando f&aacute;bulas com propagandas baseadas em erros, n&atilde;o por n&uacute;meros maquiados, e sim em decorr&ecirc;ncia da falta absoluta de confian&ccedil;a da popula&ccedil;&atilde;o nas a&ccedil;&otilde;es policiais.</p> </div> <div> <p>Diante da real falta de credibilidade e da perda da confian&ccedil;a do povo nas a&ccedil;&otilde;es da sua Pol&iacute;cia com o conseq&uuml;ente desleixe estatal para com as nossas institui&ccedil;&otilde;es, devemos, pois, lutar por uma Pol&iacute;cia verdadeiramente forte, por uma Pol&iacute;cia &uacute;nica como &oacute;tima op&ccedil;&atilde;o para resolu&ccedil;&atilde;o da problem&aacute;tica.</p> <p>O tempo de briga por moedas e migalhas deve ficar para tr&aacute;s. Devemos recolher as nossas desaven&ccedil;as, esquecer de vez as &nbsp;medi&ccedil;&otilde;es de poder ainda existente entre as Pol&iacute;cias Civil e Militar, que fazem com que fiquemos com for&ccedil;as divididas e partir para uma luta mais s&oacute;lida e dignificante.</p> </div> <div> <p>N&oacute;s somos agentes de transforma&ccedil;&atilde;o social e n&atilde;o somos analfabetos pol&iacute;ticos nem tampouco devemos pensar em desestabilizar governo algum, devemos sim, lutarmos para mostrar a nossa grandeza atrav&eacute;s da habilidade porque tamb&eacute;m entendemos de t&eacute;cnicas dial&oacute;gicas e n&atilde;o s&oacute; do combate ao crime pela for&ccedil;a.</p> <p>Devemos lutar pelo que merecemos atrav&eacute;s da perspic&aacute;cia, pois assimilamos uma verdade que n&atilde;o &eacute; s&oacute; nossa e sim da popula&ccedil;&atilde;o que clama por uma seguran&ccedil;a p&uacute;blica justa e eficaz.</p> </div> <div> <p>Devemos lutar pela nossa valoriza&ccedil;&atilde;o profissional de maneira zelosa porque discutimos sobre a sociedade e &eacute; dessa mesma sociedade o desejo de ter uma Pol&iacute;cia forte e eficiente para a conseq&uuml;ente prote&ccedil;&atilde;o do bem comum.</p> <p>Para chegarmos a esse patamar superior, n&atilde;o devemos usar a linguagem beligerante nem tampouco arrogante ou desafiante, e sim, a linguagem inteligente do consenso para a recondu&ccedil;&atilde;o da raz&atilde;o instrumental em busca daquilo que achamos satisfat&oacute;rio para a poss&iacute;vel Pol&iacute;cia unificada e ideal para o povo, pois &eacute; do povo a nossa raz&atilde;o de exist&ecirc;ncia.</p> </div> <div>Juntos, resgataremos a nossa dignidade perdida, a confian&ccedil;a e a credibilidade do povo, pois passaremos a ser uma entidade policial verdadeiramente forte.</div> <div>&nbsp;</div> <div>*<strong><em>Delegado de Policia. P&oacute;s-Graduado em Gest&atilde;o Estrat&eacute;gica de Seguran&ccedil;a Publica pela Universidade Federal de Sergipe</em></strong>/ &nbsp;archimedes-marques@bol.com.br</div>
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