Uma mulher que fez história

Uma mulher que fez história

Mirian Portela se destacou em sua atuação na politica / arquivo

O Piauí se despediu ontem de uma mulher que fez história na política – Myriam Portella, que faleceu aos 87 anos, de pneumonia.

A cerimônia de despedida foi restrita à família, em função da pandemia do Covid-19, que proíbe aglomerações, inclusive nos velórios.

As homenagens à sua memória foram prestadas através da imprensa e das mídias sociais.

Dona Myriam Portella se projetou na vida pública como presidente da Comissão de Assistência Comunitária (CAC), no governo Lucídio Portella (1979-1983).

O cargo era exercido pelas primeiras-damas, que abraçavam muitas das políticas sociais do Estado.

Eleição para a Câmara

Sua atuação foi tão marcante, sobretudo nos bairros mais pobres de Teresina, que ela acabou sendo eleita deputada federal nas eleições de 1986, quando já não era mais primeira-dama nem ocupava cargo público.

Dos 27 mil votos que garantiram seu mandato, mais de 18 mil foram obtidos na capital.

Na Câmara Federal, ela aliou-se aos grupos parlamentares progressistas na defesa dos direitos sociais e da mulher, especialmente durante o processo de elaboração da nova Constituição do Brasil.

Candidata a prefeita

Nas eleições municipais de 1988, ela quebrou tabu novamente na política e foi candidata a prefeita de Teresina, através de uma aliança que uniu no mesmo palanque o PDS, o PCdoB e o PMDB estadual.

Na reta final da campanha, rompeu com o governador Alberto Silva, de quem seu marido era vice-govenador. Resultado: seu palanque foi esvaziado pelo governo. Acabou em terceiro lugar.

O candidato vitorioso foi o deputado federal Heráclito Fortes (PMDB). O segundo colocado foi o também deputado federal Átila Lira (PFL).

Fundadora do PSDB

Derrotada na eleição municipal em Teresina, a deputada Myriam Portella levantou, sacudiu a poeira e voltou para Brasília, para retomar as suas atividades no Congresso.

Lá juntou-se a Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Chagas Rodrigues, Moema São Thiago e outros parlamentares na fundação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em 1989.

Não se reelegeu para a Câmara nas eleições de 1990 e retornou à vida pública em 1993, como secretária municipal da Criança e do Adolescente, a convite do prefeito Wall Ferraz, liderança do PSDB no Piauí.

Em sua gestão, a Prefeitura de Teresina recebeu um Prêmio da Fundação Ford pelo Projeto Creches Comunitárias, idealizado e implantado por ela nos bairros periféricos.

É também desse tempo a criação da Casa de Zabelê, instituição de apoio a meninas em situação de rua e de risco em Teresina. O projeto foi implantado em parceria com a Arquidiocese.

Na Prefeitura, o xodó de todos

Foi nessa época que fiquei próximo de dona Myriam. Eu era secretário de Comunicação na mesma equipe.

Nossa amizade se estreitou a partir daí e se prolongou até o seu silêncio definitivo. Também estou muito triste com a sua partida.Dona Myriam era uma pessoa doce, bela, inteligente, generosa, firme e alto astral, apesar das duríssimas provações que a vida lhe impôs.Conhecia a fundo os bastidores da política piauiense.

Todos os secretários a reverenciavam, especialmente os que mais gostavam de política, mesmo se declarando técnicos: Firmino Filho (Finanças), Kleber Montezuma (Trabalho e Ação Comunitária), George Mendes (Indústria e Comércio), Matias Matos (Agricultura), Romildo Mafra (Chefe de Gabinete) e José Reis Pereira (Educação) – este, sim, político, ex-deputado estadual e dirigente do PSDB.

Como lembra o publicitário George Mendes, em crônica que lhe dedica, “Ela sempre trazia uma curiosidade, queria dialogar sobre um determinado tema, assunto, circunstância. Sabia, como poucos, fazer o jogo das influências: bebia da fonte e servia água fresca.A passada curta trazia elegância e firmeza de orientação”.

Dona Myriam era uma tucana fervorosa. Sempre ia para a rua defender as bandeiras do partido e seus candidatos a presidente.

Ela presidiu o PSDB em Teresina e integrou a ala feminina do PSDB nacional.

Era formada em Direito pela Universidade Federal do Piauí e servidora aposentada da Justiça Eleitoral.

Foto: Agência Senado

Homenagem do Congresso

Em março de 2018, o Senado e a Câmara Federal prestaram homenagem a Myriam Portella e às demais 25 deputadas que atuaram no processo constituinte, entre 1987 e 1988. Elas receberam o Diploma Bertha Lutz.

A entrega foi feita durante sessão solene do Congresso Nacional, no Plenário do Senado. O evento integrou a programação comemorativa dos 30 anos da Constituição de 1988.

O Diploma Bertha Lutz foi criado em 2001 para premiar anualmente pessoas que tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos da mulher e questões de gênero no Brasil, em qualquer área de atuação.

Mulher na política

A sua condição de primeira mulher a se eleger deputada federal pelo Piauí e de única mulher do Estado a participar de uma Assembleia Nacional Constituinte não a envaidecia.

Ela não encarava isso como uma conquista pessoal sua. Via mais longe: em uma sociedade historicamente machista, a sua eleição para a Câmara Federal significava, antes de tudo, uma abertura na política para a participação feminina.

Hoje, das 10 cadeiras do Piauí na Câmara Federal, quatro são ocupadas por mulheres, uma delas a deputada Iracema Portella, filha de dona Myriam.

Que a sua caminhada política continue a inspirar as mulheres do Piauí!

Siga em paz, dona Myriam, para o seu descanso eterno!

Extraido da coluna Zózimo Tavares no Cidadeverde.com

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