O fenômeno Bullying pode gerar malefícios irreparáveis e crimes diversos

O fenômeno Bullying pode gerar malefícios irreparáveis e crimes diversos

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<div> <p>Na trajet&oacute;ria da vida nos deparamos com situa&ccedil;&otilde;es inusitadas e surpreendentes. Em algumas delas podemos agir, interferir e at&eacute; mesmo remediar algo de errado, por&eacute;m noutras, apenas lamentar.</p> <p>Dia desses, em visita a cidade de Salvador, fui ao Mercado Modelo e ali nas suas imedia&ccedil;&otilde;es um fato ocorrido me chamou aten&ccedil;&atilde;o para o termo ingl&ecirc;s conhecido por Bullying, cujos atos decorrentes s&atilde;o antigos, mas que no presente tempo com a propaga&ccedil;&atilde;o das a&ccedil;&otilde;es inerentes tr&aacute;s imensa preocupa&ccedil;&atilde;o para os educadores, pais de alunos, autoridades diversas e para a sociedade em geral, vez que os seus resultados sempre se esbarram em situa&ccedil;&otilde;es criminosas ou deprimentes, por vezes com malef&iacute;cios irrepar&aacute;veis principalmente para as suas v&iacute;timas.</p> </div> <div> <p>O fen&ocirc;meno Bullying &eacute; usado no sentido de identificar a&ccedil;&otilde;es provindas dos termos zoar, gozar, tiranizar, amea&ccedil;ar, intimidar, isolar, ignorar, humilhar, perseguir, ofender, agredir, ferir, discriminar e apelidar pessoas com nomes maldosos, que na grande maioria das vezes tem origem nas escolas atrav&eacute;s dos jovens alunos que assim praticam tais maldades contra determinados colegas que possuem algum defeito f&iacute;sico, assim como, os relacionados &agrave; cren&ccedil;a, ra&ccedil;a, op&ccedil;&atilde;o sexual ou aos que carregam algo fora do normal no seu jeito de ser.</p> <p>De volta ao Mercado Modelo, chegava um &ocirc;nibus de turismo quando diversos vendedores ambulantes assediavam os turistas para venderem os seus produtos, quando apareceu um velho mendigo, barbudo, cabeludo, maltrapilho, imundo, de p&eacute;s descal&ccedil;os, tipo daqueles cidad&atilde;os que vivem ou sobrevivem &agrave; espera da morte na mis&eacute;ria absoluta, morando debaixo das marquises das lojas ou dos viadutos que o tempo e a vida lhes deram de presente e, ao se aproximar daquele grupo de pessoas, ent&atilde;o um dos vendedores o enxotou em verdadeira humilha&ccedil;&atilde;o:</p> </div> <div> <p><strong>- Sai pr&aacute; l&aacute; GAMB&Aacute; que voc&ecirc; espanta qualquer um com o seu fedor de fossa insuport&aacute;vel!...</strong></p> <p>Vendo aquela cena deprimente e desumana me aproximei daquele mendigo que j&aacute; sa&iacute;a sem reclamar com o &ldquo;rabinho entre as pernas&rdquo; para lhe dar um trocado qualquer e ent&atilde;o, do seu jeito de caminhar, dos seus gestos com as m&atilde;os, de um sinal no rosto e de um tic nervoso a piscar a todo tempo um dos olhos quase j&aacute; fechado pela amargura do seu viver, o reconheci...</p> </div> <div> <p>De imediato naveguei pelo t&uacute;nel do tempo de volta ao passado e aportei em uma Escola da rede p&uacute;blica ali pr&oacute;xima na pr&oacute;pria cidade baixa da capital baiana, no in&iacute;cio dos anos 70, onde estudei por quase dois anos antes de voltar para Aracaju e, l&aacute; encontrei o colega de classe apelidado de GAMB&Aacute;, ent&atilde;o perseguido implacavelmente, ofendido na sua cidadania, discriminado pelo seu jeito de ser e humilhado incondicionalmente pela grande maioria dos seus jovens colegas, meninos e meninas com idades aproximadas de 13 e 14 anos.</p> <p>Aquele jovem que talvez n&atilde;o gostasse de tomar banho ou que talvez n&atilde;o tivesse oportunidade freq&uuml;ente para tanto, pelo fato de possivelmente morar em alguma invas&atilde;o desprovida de saneamento b&aacute;sico e, que sempre chegava suado e cheirando mal em sala de aula, talvez pelo prov&aacute;vel fato de tamb&eacute;m n&atilde;o possuir produtos higi&ecirc;nicos na sua casa, logo ganhou de algum colega gaiato o apelido de gamb&aacute; que nele grudou qual uma sanguessuga a sugar a sua dignidade e, ent&atilde;o passou a ser menosprezado e ofendido por quase todos da classe e at&eacute; das salas circunvizinhas. Por onde passava os alunos tapavam o nariz e na sala de aula sentava na &uacute;ltima carteira, isolado de todos. De tanto humilhado e discriminado que era ningu&eacute;m dele se aproximava, principalmente por receio de tamb&eacute;m ser hostilizado.</p> </div> <div> <p>Senti uma fisgada no peito ao me ver tamb&eacute;m culpado pelo que se transformou o jovem colega conhecido por gamb&aacute;. Confesso ter sido c&uacute;mplice por omiss&atilde;o, n&atilde;o por a&ccedil;&atilde;o, pois eu tamb&eacute;m era uma v&iacute;tima das a&ccedil;&otilde;es nefastas advindas do Bullying, por ser um menino t&iacute;mido ao extremo ao ponto de todos os dias entrar calado e sair mudo em sala de aula, ent&atilde;o isolado pelos colegas da classe que preferiam lidar com os mais falantes e extrovertidos.</p> <p>Como v&iacute;tima parceira de tais a&ccedil;&otilde;es depreciativas, o certo era eu ter me juntado ao colega gamb&aacute;, mas n&atilde;o o fiz por covardia, por medo, por receio de ser mais recha&ccedil;ado ainda pelos demais estudantes e assim sofremos individualmente em propor&ccedil;&otilde;es diferentes a dor do isolamento e da humilha&ccedil;&atilde;o naquele intermin&aacute;vel ano de 1972. No ano seguinte gamb&aacute;, ap&oacute;s ter sido reprovado com as menores notas da classe em todas as mat&eacute;rias poss&iacute;veis n&atilde;o mais retornou ao Col&eacute;gio, enquanto que, para minha alegria logo retornei para o meu querido Estado de Sergipe para crescer e esquecer aquele deprimente, humilhante e sufocante tempo.</p> </div> <div> <p>Essa triste li&ccedil;&atilde;o de vida me mostrou o quanto as chamadas inocentes brincadeiras de crian&ccedil;a podem ser mal&eacute;ficas para tantos outros, se &eacute; que essas a&ccedil;&otilde;es escolares agora conhecidas por Bullying podem ser consideradas inocentes, vez que para muitos estudiosos no assunto, tais ofensores sofrem de dist&uacute;rbios ps&iacute;quico que precisam de tratamento sob pena de explos&otilde;es mais desastrosas ainda, como de fato vem ocorrendo em muitos lugares.</p> <p>A agressividade e a viol&ecirc;ncia advindas do fen&ocirc;meno Bullying assumem al&eacute;m de tudo, o car&aacute;ter etiol&oacute;gico do violar, n&atilde;o s&oacute; referente &agrave;s normas de conduta, a moral e a disciplina, mas principalmente viola os direitos do cidad&atilde;o relacionados a sua integridade f&iacute;sica e ps&iacute;quica, a sua liberdade de opini&atilde;o ou sua escolha de vida, a sua liberdade de express&atilde;o e at&eacute; de locomo&ccedil;&atilde;o, enfim, fere de morte o princ&iacute;pio constitucional da dignidade da pessoa humana em sociedade.</p> </div> <div> <p>A psiquiatria e a psicologia mostram que al&eacute;m do sofrimento dos jovens v&iacute;timas do fen&ocirc;meno Bullying, muitos adultos ainda experimentam afli&ccedil;&otilde;es intensas advindas de uma vida estudantil traum&aacute;tica.</p> <p>Nos &uacute;ltimos anos a popula&ccedil;&atilde;o mundial freq&uuml;entemente assiste at&ocirc;nita as diversas situa&ccedil;&otilde;es estarrecedoras quase sempre nascidas e advindas do fen&ocirc;meno Bullying, com agress&otilde;es f&iacute;sicas e assassinatos por parte de alunos contra os seus pr&oacute;prios colegas, contra professores, guerras de gangues, de torcidas organizadas, de tr&aacute;fico de drogas com participa&ccedil;&atilde;o de jovens estudantes at&eacute; mesmo dentro das pr&oacute;prias instala&ccedil;&otilde;es escolares.</p> </div> <div> <p>As diversas Escolas espalhadas pelo pa&iacute;s, destarte para as situadas nos ambientes perif&eacute;ricos das grandes cidades se tornaram espa&ccedil;o de intoler&acirc;ncia, competi&ccedil;&otilde;es absurdas e conflitos de todos os tipos poss&iacute;veis, em especial para os problemas relacionados &agrave;s drogas, assim como, para os pertinentes &agrave; liberdade sexual, ou seja, para as meninas que n&atilde;o aderem a esse tipo de pratica livre, passando ent&atilde;o as mesmas a sofrer diversos tipos de persegui&ccedil;&otilde;es, em verdadeiras invers&otilde;es de valores por conta das a&ccedil;&otilde;es absurdas do fen&ocirc;meno Bullying.</p> <p>&Eacute;tica, solidariedade e humanismo s&atilde;o realmente palavras desconhecidas e perdidas em muitas comunidades de jovens estudantes que as substituem pelo desrespeito e pela afronta ao direito individual do seu colega que pretende prosperar e vencer na vida honestamente, pelo seu pr&oacute;prio esfor&ccedil;o e valor.</p> </div> <div> <p>&Eacute; preciso dar um basta nestes tipos perniciosos de vandalismo e delitos juvenis. O jovem necessita acima de tudo de limites. Precisa entender os seus direitos e os seus deveres e at&eacute; onde eles chegam. Precisa de disciplina e autoridade. Precisa entender que todos s&atilde;o cidad&atilde;os em igualdade de condi&ccedil;&otilde;es. Entretanto, para que consigamos chegar a tal gera&ccedil;&atilde;o de jovens politizada, s&oacute; com uma boa educa&ccedil;&atilde;o familiar e escolar &eacute; poss&iacute;vel alcan&ccedil;ar tal objetivo.</p> <p>Assim, n&atilde;o h&aacute; como deixar de concluir que estamos diante de um s&eacute;rio problema relacionado &agrave;s &aacute;reas educacional, social, da psiquiatria e de seguran&ccedil;a p&uacute;blica, com real tend&ecirc;ncia para sua resolu&ccedil;&atilde;o na educa&ccedil;&atilde;o preventiva, curativa psiquiatra ou psicol&oacute;gica, por isso, necess&aacute;rio se faz, da consci&ecirc;ncia absoluta do Minist&eacute;rio da Educa&ccedil;&atilde;o com a elabora&ccedil;&atilde;o de verdadeiro e efetivo Programa de combate a este grande malef&iacute;cio conhecido por Bullying, tomando por gerentes os bons educadores, estudiosos e pesquisadores no assunto que em alguns Estados brasileiros j&aacute; se fazem presentes nas suas respectivas secretarias de educa&ccedil;&atilde;o, mas que necessitam, sem sombras de d&uacute;vidas, de melhores investimentos financeiros para as suas conseq&uuml;entes vit&oacute;rias que por certo ser&atilde;o galgadas no trabalho junto aos pais de alunos, professores e dos pr&oacute;prios estudantes autores e vitimas do fen&ocirc;meno.</p> </div> <div>Al&eacute;m dessa medida, necess&aacute;rio se faz uma batalha mais ampla dentro do Legislativo, at&eacute; com uma reforma no pr&oacute;prio Estatuto de Crian&ccedil;a e do Adolescente com reais modifica&ccedil;&otilde;es e acrescentando-se a esta Lei bons artigos inerentes ao tema para possibilitar ao Estado Na&ccedil;&atilde;o um melhor campo de atua&ccedil;&atilde;o, pois &eacute; desejo de todos n&oacute;s vermos os nossos jovens estudantes crescendo e somando-se a constru&ccedil;&atilde;o coletiva e permanente para o pleno exerc&iacute;cio da cidadania.</div> <div>&nbsp;</div> <div><strong>Autor: Archimedes Marques (delegado de Policia no Estado de Sergipe. P&oacute;s-Graduado em Gest&atilde;o Estrat&eacute;gica de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica pela Universidade Federal de Sergipe) <a href="mailto:archimedes-marques@bol.com.br"><span>archimedes-marques@bol.com.br</span></a> </strong></div>
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