Recordando Noel, lá no céu

Recordando Noel, lá no céu

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<div><strong>&ldquo;<em>O orvalho vem caindo, vai molhar o meu chap&eacute;u,<br /> e tamb&eacute;m v&atilde;o sumindo, as estrelas l&aacute; do c&eacute;u,<br /> Tenho passado t&atilde;o mal,<br /> A minha cama &eacute; uma folha de jornal</em>&rdquo;.</strong></div> <div>&nbsp;</div> <div>Neste ano, 2010, o mundo celebra o nascimento de muitos vultos que, com suas obras e cria&ccedil;&otilde;es transformaram a m&uacute;sica, as artes e a literatura em benef&iacute;cio da humanidade. N&oacute;s, brasileiros, tivemos o privil&eacute;gio de comemorarmos o centen&aacute;rio de nascimento de grandes personalidades. Lembraria os escritores Aur&eacute;lio Buarque de Hollanda e Rachel de Queiroz. Na m&uacute;sica popular brasileira o ano de 1910 foi prod&iacute;gio com o nascimento de Cust&oacute;dio Mesquita, Luiz Barbosa, Vadico, Ren&ecirc; Bittencourt, Adoniram Barbosa e Noel Rosa. Este &uacute;ltimo, agora, ilustre homenageado neste ensaio liter&aacute;rio.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Nosso compositor, Chico Buarque de Hollanda, considerado por muitos como o maior da M&uacute;sica Popular Brasileira, n&atilde;o se cansa de dizer que deve muito da sua inspira&ccedil;&atilde;o e estilo musical a admira&ccedil;&atilde;o que sempre nutriu pela obra do Poeta da Vila. Considera-se um disc&iacute;pulo do maior compositor da d&eacute;cada de 1930. N&atilde;o s&atilde;o poucos os compositores e cantores brasileiros que veneram a obra e o talento de Noel Rosa. Com suas composi&ccedil;&otilde;es que cantam o cotidiano, o linguajar do povo, o amor, a paix&atilde;o, a fome, a falta de dinheiro, os conflitos amorosos e sociais e os maus governos, ele permanece atual&iacute;ssimo neste s&eacute;culo.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11.12.1910, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, morando sempre na mesma casa, bairro que se tornou c&eacute;lebre atrav&eacute;s de suas m&uacute;sicas. Era filho de Manuel Garcia de Medeiros Rosa e Martha de Medeiros Rosa. Sua m&atilde;e teve um parto for&ccedil;ado e o m&eacute;dico precisou usar f&oacute;rceps, o que teria causado seu problema no queixo, pouco proeminente. Carregou pelo resto de sua vida as marcas que lhe causara fratura e afundamento do maxilar inferior, al&eacute;m de ligeira paralisia facial no lado direito do rosto, o qual acentuava nas suas autocaricaturas. Por&eacute;m, mais profunda que a deforma&ccedil;&atilde;o f&iacute;sica, seria a de forma&ccedil;&atilde;o no esp&iacute;rito do garoto. Noel carregaria um grande complexo. A linha reta que une seu pesco&ccedil;o ao l&aacute;bio inferior, quase sem a presen&ccedil;a do queixo, seria respons&aacute;vel por v&aacute;rias amarguras que o acompanhara por todos os caminhos da vida.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel cresceu franzino, doentio e feio, sendo um pouco desprezado por seus colegas da &eacute;poca, por n&atilde;o apresentar uma razo&aacute;vel beleza f&iacute;sica. Apesar dessas dificuldades de acessibilidade perante a turma, chegando aos treze anos a ser apelidado de &ldquo;Queixinho&rdquo;, desde a adolesc&ecirc;ncia interessou-se pela m&uacute;sica e posteriormente pela vida bo&ecirc;mia. J&aacute; frequentava ambientes musicais e as famosas rodas de samba. De fam&iacute;lia de classe m&eacute;dia estudou no tradicional Col&eacute;gio S&atilde;o Bento. J&aacute; na adolesc&ecirc;ncia aprendeu a tocar bandolim de ouvido, com a m&atilde;e, e viol&atilde;o com o pai, fato marcante em sua vida, pois a partir da&iacute;, percebera que a sua grande habilidade instrumental tornava-o importante diante de outras pessoas, compensando a sua timidez e seu preconceito.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Aos dezessete anos de idade criou juntamente com os compositores Almirante (Henrique For&eacute;is Domingues &ndash; Rio de Janeiro-RJ - 19.02.1908 &ndash; 22.12.1980) e Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga, pseud&ocirc;nimo Jo&atilde;o de Barro &ndash; Rio de Janeiro-RJ - 29.03.1907 &ndash; 24.12.2006), o <strong>Bando dos Tangar&aacute;s</strong>, com relativo sucesso.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>N&atilde;o desprezando os estudos entrou para a Faculdade Nacional de Medicina em 1930, que abandonou dois anos depois, sem, no entanto, abandonar o viol&atilde;o e a boemia. No ano seguinte, conheceu seu primeiro grande sucesso musical intitulado <em>Com que roupa?</em> Foi apresentado em espet&aacute;culos do Cinema Eldorado. Com esta grava&ccedil;&atilde;o j&aacute; se podia notar seu lado humor&iacute;stico e ir&ocirc;nico, al&eacute;m da cr&ocirc;nica da vida e do povo carioca, marcante em toda a sua vasta e diversificada obra.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Como sabiamente disse o estudioso e cr&iacute;tico musical, Jos&eacute; Ramos Tinhor&atilde;o, Noel Rosa: &ldquo;<em>Exaltou na tem&aacute;tica da m&uacute;sica popular brasileira, a ang&uacute;stia da metaf&iacute;sica amorosa (<strong>&Uacute;ltimo desejo</strong>), a explora&ccedil;&atilde;o do aspecto social (<strong>O orvalho vem caindo</strong>) e a mais viva caracteriza&ccedil;&atilde;o de tipos populares (<strong>Conversa de botequim</strong>)&rdquo;</em>.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A partir deste sucesso, Noel Rosa tornou-se um compositor extraordinariamente criativo e desenvolveu uma carreira vertiginosa, com aproximadamente 259 composi&ccedil;&otilde;es gravadas, das trezentas produzidas, entre sambas-can&ccedil;&otilde;es, sambas e marchinhas. &Eacute; claro que comp&ocirc;s com dezenas de grandes parceiros que deixaram, para a posteridade, um sem-n&uacute;mero de obras-primas na M&uacute;sica Popular Brasileira.</div> <div>&nbsp;</div> <div>O seu parceiro mais constante, com quem dividiu seus maiores &ecirc;xitos foi Vadico (Oswaldo Gogliano &ndash; Rio de Janeiro &ndash; 24.06.1910 &ndash; 11.06.1962). Tamb&eacute;m comp&ocirc;s com Jo&atilde;o de Barro (Braguinha), Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, Lamartine Babo, Orestes Barbosa, entre outros.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Na d&eacute;cada de 1930 quando foram compostos os grandes sucessos <em>Feiti&ccedil;o da Vila, Filosofia, Fita amarela, Gago apaixonado, O x do problema, Palpite infeliz e Pra que mentir</em>, era normal se vender composi&ccedil;&otilde;es musicais, dividindo-se o prest&iacute;gio e o sucesso com os cantores que as interpretariam, gravando-as em seus discos fonogr&aacute;ficos de vinil pl&aacute;stico. Noel Rosa vendera algumas de suas m&uacute;sicas para outros int&eacute;rpretes, tornando-se conhecido no r&aacute;dio, pelas vozes de cantores como M&aacute;rio Reis, Francisco Alves, Mar&iacute;lia Batista e Aracy de Almeida.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel Rosa foi sempre fr&aacute;gil e constantemente apresentava alguma doen&ccedil;a. Apesar de fortes problemas pulmonares, n&atilde;o largava a bebida, o cigarro e a boemia, com bom humor e ironia, formulou uma teoria a respeito do consumo de cerveja gelada.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A partir de 1933 travou a famosa pol&ecirc;mica musical com o compositor Wilson Batista, em torno da qual seriam produzidos diversos sambas famosos: <em>Len&ccedil;o no pesco&ccedil;o</em> (Wilson Batista) fazia a apologia do sambista malandro, imagem que Noel contestou com <em>Rapaz folgado</em>. Wilson Batista retrucou com <em>Mocinho da Vila</em>, encerrando a primeira fase da pol&ecirc;mica, que continuou depois de algum tempo com novos sambas de parte a parte. Depois, foi lan&ccedil;ada a m&uacute;sica <em>Conversa fiada</em> respondendo ao seu <em>Feiti&ccedil;o da Vila</em> (com Vadico), de 1934. Noel contra-atacou com <em>Palpite infeliz</em> (1935), mas n&atilde;o respondeu a dois outros sambas de Wilson, <em>Frankenstein da Vila </em>e <em>Terra de cego</em>. No final, os dois se tornaram amigos e a m&uacute;sica popular brasileira s&oacute; teve a ganhar com essa discuss&atilde;o musical.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Na m&uacute;sica, as d&eacute;cadas de 1930/1950 tiveram seu auge e foram consideradas como a famosa &ldquo;&Eacute;poca de Ouro&rdquo; da m&uacute;sica popular brasileira. Um per&iacute;odo f&eacute;rtil neste campo com o surgimento de grandes expoentes, do quilate de um Pixinguinha, Luiz Peixoto, Freire J&uacute;nior, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Ismael Silva, Almirante, Assis Valente, Cust&oacute;dio Mesquita, M&aacute;rio Reis, Joubert de Carvalho, Francisco Alves, Haroldo Barbosa, N&aacute;ssara, Lupic&iacute;nio Rodrigues, Herivelto Martins, Silvio Caldas, David Nasser, Jo&atilde;o de Barro, entre outros. Mais tarde, deram continuidade a esta safra de grandes sucessos: Dorival Caymmi, Adelino Moreira, Ant&ocirc;nio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes, Evaldo Gouveia e Jair Amorim, Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandr&eacute;, Roberto e Erasmo Carlos etc.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Em 1934, Noel excursionou com Benedito Lacerda, Russo do Pandeiro, Canhoto e outros componentes do grupo <strong>Gente do Morro</strong>. De volta ao Rio de Janeiro, em junho conheceu num cabar&eacute; da Lapa a dan&ccedil;arina Ceci (Juraci Correia de Ara&uacute;jo), com 16 anos, a grande paix&atilde;o de sua vida e a inspiradora de muitos sambas como: <em>Pra que mentir</em>, <em>O maior castigo, s&oacute; pode ser voc&ecirc;,</em> <em>Quantos beijos e</em> <em>Cem mil r&eacute;is </em>(todas com Vadico) e<em> Quem ri melhor, Dama do cabar&eacute;</em> e <em>&Uacute;ltimo desejo</em>. No mesmo ano a marcha <em>Linda pequena</em> (com Jo&atilde;o de Barro) foi gravada por Jo&atilde;o Petra de Barros. Curiosamente, a mesma m&uacute;sica, com a letra ligeiramente alterada por Jo&atilde;o de Barro, foi gravada depois por S&iacute;lvio Caldas com o nome de <em>Pastorinhas</em>, vencendo o concurso carnavalesco de 1938, promovido pela Prefeitura do ent&atilde;o Distrito Federal.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Apesar da not&oacute;ria paix&atilde;o por esta mo&ccedil;a de nome Ceci, dan&ccedil;arina nos cabar&eacute;s da Lapa, Noel casou-se com outra jovem chamada Lindaura Pereira da Mota, em 1&ordm; de dezembro de 1934. Essa uni&atilde;o n&atilde;o alterou em nada sua vida bo&ecirc;mia e as noitadas na Lapa, que acabaram por comprometer sua sa&uacute;de. No final deste ano, a sua esposa Lindaura teve uma gesta&ccedil;&atilde;o interrompida, ao cair de uma &aacute;rvore no quintal de sua casa, perdendo a crian&ccedil;a prematuramente.</div> <div>&nbsp;</div> <div>No ano seguinte, doente de tuberculose, c<strong><span>om a colabora&ccedil;&atilde;o dos amigos viajou com a esposa, passando</span></strong> uma temporada em Belo Horizonte, em busca de tratamento, por sugest&atilde;o do seu m&eacute;dico, Dr. Gra&ccedil;a Melo. Mesmo ap&oacute;s o tratamento de sa&uacute;de, continuou levando uma vida desregrada, tocando nos bares, bebendo e fumando, pois<strong> Belo Horizonte tamb&eacute;m tinha emissoras de r&aacute;dio, caf&eacute;s, botequins, cervejas e gente querendo ouvir Noel tocar e cantar suas lindas can&ccedil;&otilde;es.</strong></div> <div><strong>&nbsp;</strong></div> <div><strong>Ent&atilde;o, porque n&atilde;o retomar a vida antiga? R</strong>etornou ao Rio de Janeiro, sabendo da gravidade da sua sa&uacute;de e do pouco tempo que lhe restava, conforme havia previsto Doutor Gra&ccedil;a Melo. P<strong><span>ara Noel era o suficiente, preferia dois anos bem vividos a sobreviver sem cigarros, bebidas, mulheres e samba. Em novembro de 1936 surgiu-lhe um doloroso abscesso na face esquerda, tendo sido operado pelo dentista, Bruno de Morais, seu vizinho.</span></strong></div> <div><strong>&nbsp;</strong></div> <div><strong>Necessitava novamente dos ares e da tranquilidade da serra. E precisava novamente da ajuda dos amigos para poder viajar. Em janeiro de 1937 foi para Nova Friburgo-RJ, mas voltou vinte dias depois, por causa do frio. Teve que retornar ao Rio, desta vez, j&aacute; muito doente, fraco e sem &acirc;nimo para a bo&ecirc;mia, estando alheio mesmo ao carnaval, sua festa preferida. Em abril, mais uma viagem, agora, para Barra do Pira&iacute;. A 1&ordm; de maio, visitando a represa do Ribeir&atilde;o das Lajes, Noel sentiu violentos arrepios de frio, sobreveio a febre e a hemoptise. Estava chegando ao fim. Dia 04 de maio, antes de morrer disse: &ldquo;Estou me sentido mal. Quero virar para o outro lado&rdquo;. Em seguida, seu cora&ccedil;&atilde;o parou.</strong></div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel Rosa criou boa parte de suas m&uacute;sicas em parceria com grandes compositores nacionais. Seus principais sucessos s&atilde;o eternos, gravados e regravados at&eacute; hoje por v&aacute;rios cantores brasileiros. Podemos relembrar as seguintes m&uacute;sicas, seus parceiros e respectivos anos que foram gravadas: <em>Com que roupa?</em>, Noel Rosa, 1929; <em>Minha viola</em>, Noel Rosa, 1929; <em>Gago apaixonado</em>, Noel Rosa, 1930; <em>Quem d&aacute; mais?</em>, Noel Rosa, 1930; <em>Adeus</em>, com Ismael Silva e Francisco Alves, 1931; <em>A.E.I.O.U</em>., com Lamartine Babo, 1931; <em>Cora&ccedil;&atilde;o</em>, Noel Rosa, 1932;<em> Fita amarela</em>, Noel Rosa, 1932; <em>Onde est&aacute; a honestidade?, com Kid Pepe,</em>1932; <em>Para me livrar do mal</em>, com Ismael Silva, 1932; <em>At&eacute; amanh&atilde;</em>, Noel Rosa, 1932; <em>Tr&ecirc;s apitos</em>, Noel Rosa, 1933;<em> Feitio de ora&ccedil;&atilde;o</em>, com Vadico, 1933; <em>Positivismo</em>, com Orestes Barbosa, 1933; <em>N&atilde;o tem tradu&ccedil;&atilde;o</em>, Noel Rosa, 1933; <em>Cor de cinza</em>, Noel Rosa, 1933;<em> Filosofia</em>, com Andr&eacute; Filho, 1933; <em>Quando o samba acabou</em>, Noel Rosa, 1933; <em>O orvalho vem caindo</em>, com Kid Pepe, 1933; <em>Voc&ecirc; s&oacute;...mente</em>, com H&eacute;lio Rosa, 1933; <em>Dama do cabar&eacute;</em>, Noel Rosa, 1934;<em> Pastorinhas</em>, com Jo&atilde;o de Barro, 1934; <em>Conversa de botequim</em>, com Vadico, 1935;<em> Palpite infeliz</em>, Noel Rosa, 1935; <em>Linda pequena, com </em>Jo&atilde;o de Barro, 1935; <em>Pierr&ocirc; apaixonado</em>, com Heitor dos Prazeres, 1935;<em> Pela d&eacute;cima vez</em>, Noel Rosa, 1935; <em>Jo&atilde;o Ningu&eacute;m</em>, Noel Rosa, 1935; <em>De babado</em>, com Jo&atilde;o Mina, 1936; <em>&Eacute; bom parar</em>, com Rubens Soares, 1936; <em>Feiti&ccedil;o da Vila</em>, com Vadico, 1936; <em>Prove</em>i, com Vadico, 1936; <em>O x do problema</em>, Noel Rosa, 1936; <em>Quem ri melhor</em>, Noel Rosa, 1936; <em>S&atilde;o coisas nossas</em>, Noel Rosa, 1936; <em>Tarzan, o filho do alfaiate</em>, Noel Rosa, 1936; <em>Pra que mentir</em>, com Vadico, 1937; <em>&Uacute;ltimo desejo</em>, Noel Rosa, 1937.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A trajet&oacute;ria de Noel teve um duplo caminho. O lado doentio e tr&aacute;gico, de sua vida pessoal e o sucesso, a alegria e import&acirc;ncia de sua m&uacute;sica. At&eacute; hoje &eacute; eternizado com suas cria&ccedil;&otilde;es musicais, considerado o maior poeta cosmopolita e de maior produ&ccedil;&atilde;o musical no curto prazo de exist&ecirc;ncia. &Eacute; um mito consagrado no imagin&aacute;rio popular e suas m&uacute;sicas fazem coro na mem&oacute;ria das pessoas, principalmente na hist&oacute;ria da MPB.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A vida bo&ecirc;mia do poeta comprova que ele deixava versos e bilhetes de amor presos &agrave;s cordas do viol&atilde;o, para que as namoradas os encontrassem pela manh&atilde;, quando ele ainda n&atilde;o havia chegado em casa, vindo da noite de boemia.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Gostava tanto das noitadas e da boemia que, misturadas ao &aacute;lcool e ao fumo, foram alguns dos respons&aacute;veis por seus pulm&otilde;es perfurados pela tuberculose, que acabaria levando-o &agrave; morte. Sua cria&ccedil;&atilde;o n&atilde;o requeria uma condi&ccedil;&atilde;o especial. &Agrave; noite, a bebida e a poesia iam se misturando e se transformando em can&ccedil;&otilde;es. Sua m&uacute;sica n&atilde;o pedia estados de torpor, adormecimento ou euforia. Seus elementos eram outros. E, talvez, tivessem como &uacute;nicos requisitos o lugar: era na rua que eles surgiam e era nos botequins que eles cresciam e ganhavam a cidade.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A vida irrespons&aacute;vel que Noel levava naquele tempo estimulava a sua cria&ccedil;&atilde;o, pois a m&uacute;sica, o lirismo e a poesia brotavam espontaneamente. Suas letras, com humor e ironia eram criadas de improviso. Considerava isso uma atividade t&atilde;o corriqueira quanto conversar com os amigos. Suas cria&ccedil;&otilde;es iniciavam-se cantarolando numa mesa de bar, as palavras iam se misturando aos sons e pronto! Mais um samba estava terminado. E que samba!</div> <div>&nbsp;</div> <div>Na verdade, Noel Rosa ditou os rumos da M&uacute;sica Popular Brasileira. Cantou o cotidiano, o povo, a cidade e seus costumes, colocando na medida exata, o peso da poesia nas suas composi&ccedil;&otilde;es. Tudo o que aconteceria em nossa m&uacute;sica nas d&eacute;cadas seguintes teria, de alguma forma, sua marca ou sua influ&ecirc;ncia.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Quebrou tabus e paradigmas, divulgando o samba urbano, at&eacute; ent&atilde;o restrito ao morro, introduzindo-o em todas as classes sociais. Sua poesia musicada encantou o Brasil.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Em fevereiro de 1937, encontrava-se em Nova Friburgo-RJ, em busca de melhores climas para curar sua tuberculose. Apesar da doen&ccedil;a, apresentou-se no cinema local e frequentava os bares da cidade. De volta ao Rio de Janeiro, em mar&ccedil;o, comp&ocirc;s <em>&Uacute;ltimo desejo</em> e logo em seguida o samba <em>Eu sei sofrer</em> sua &uacute;ltima composi&ccedil;&atilde;o, gravada por Aracy de Almeida e Benedito Lacerda, exatamente no dia de sua morte.</div> <div>&nbsp;</div> <div>No ano seguinte, foi lan&ccedil;ada a grava&ccedil;&atilde;o do samba <em>&Uacute;ltimo desejo, </em>feita por Aracy de Almeida no ano anterior, sem que o compositor chegasse a ouvir a grava&ccedil;&atilde;o de uma de suas obras mais c&eacute;lebres, cuja partitura foi ditada no leito de morte para o seu amigo e parceiro Vadico.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel Rosa foi homenageado com dois filmes: <em>O Mandarim</em>, onde Chico Buarque de Hollanda faz o papel principal, e <em>Noel - O poeta da Vila</em>. Na literatura tem dois livros que contam a sua hist&oacute;ria<em>: Noel Rosa &ndash; Uma biografia, </em>escrito por Jo&atilde;o M&aacute;ximo e Carlos Didiere <em>No tempo de Noel Rosa</em>,da autoria deAlmirante<em>. </em>No teatro foi apresentada a pe&ccedil;a<em> O Poeta da Vila e seus amores</em>.<em> N&atilde;o resta a menor d&uacute;vida</em> (com Herv&ecirc; Cordovil) e <em>Pierr&ocirc; apaixonado </em>(com Heitor dos Prazeres) foram inclu&iacute;das na trilha sonora do filme <em>Al&ocirc;, al&ocirc;, Carnaval</em>, de Ademar Gonzaga. O Gr&ecirc;mio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel dedicou o samba-enredo do Carnaval de 2010, <em>&ldquo;Noel: a presen&ccedil;a do Poeta da Vila&rdquo;, </em>de autoria do sambista Martinho da Vila, ao mais famoso compositor nascido naquele bairro. Ruas, pra&ccedil;as e monumentos d&atilde;o nome ao grande artista em todo o Pa&iacute;s.</div> <div>&nbsp;</div> <div>O Poeta da Vila teve sua obra resgatada com grava&ccedil;&otilde;es de grandes sucessos na voz de Nelson Gon&ccedil;alves, Chico Buarque e Cristina Buarque, Jo&atilde;o Nogueira, Beth Carvalho, Maria Beth&acirc;nia, Ivan Lins, Z&eacute; Renato e dezenas de outros int&eacute;rpretes.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Noel tinha apenas 26 anos, quatro meses e vinte e tr&ecirc;s dias quando faleceu em sua casa, no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro, em 04.05.1937. Deixou 259 composi&ccedil;&otilde;es gravadas, sem contabilizar as m&uacute;sicas que vendeu. Na hist&oacute;ria da M&uacute;sica Popular Brasileira nenhum compositor produziu igual n&uacute;mero de sucessos em t&atilde;o curto espa&ccedil;o de tempo, aproximadamente seis anos de atividade musical. Dificilmente ser&aacute; igualado. Apenas no ano de 1933 teve mais de trinta composi&ccedil;&otilde;es gravadas. Um verdadeiro recorde.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Certamente, l&aacute; no C&eacute;u, Noel continua fazendo a festa, com suas pitadas de humor e goza&ccedil;&otilde;es, juntamente com seus maiores amigos, compositores ilustres da sua gera&ccedil;&atilde;o, grandes expoentes da saudosa &Eacute;poca de Ouro da M&uacute;sica Popular Brasileira.</div> <div><strong><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></strong><span>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; </span></div> <div><strong><em>&nbsp;&nbsp;*Jo&atilde;o Erism&aacute; de Moura &eacute; Advogado, Pedagogo, Auditor Federal de Controle Externo do TCU, aposentado, Acad&ecirc;mico e Escritor, pioneiro residindo em Bras&iacute;lia desde 13.07.1962.</em></strong></div>
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