O flagrante do descaso nas delegacias do Brasil

O flagrante do descaso nas delegacias do Brasil

/

<div> <p>A mat&eacute;ria principal do programa Fant&aacute;stico da rede globo apresentada ontem, dia 30/01/2011, mostrou uma seguran&ccedil;a publica que o povo brasileiro abomina e apesar de apresentar o caos absoluto ocorrido principalmente nas delegacias do Estado do Maranh&atilde;o, atingiu em cheio todas as demais policias, aumentando ainda o conceito negativo que a popula&ccedil;&atilde;o tem a respeito das nossas institui&ccedil;&otilde;es.</p> <p>Uma das situa&ccedil;&otilde;es mais chocante e estarrecedora foi a apresenta&ccedil;&atilde;o de presos &ldquo;enjaulados&rdquo; na delegacia de Bacabal, ao relento, em bom per&iacute;odo noturno tomando forte chuva. Olhando de perto, aquele xadrez mais parece uma jaula de um animal irracional e feroz, como se o detento estivesse em um zool&oacute;gico. A &ldquo;jaula&rdquo; n&atilde;o tem &aacute;gua, n&atilde;o tem banheiro, n&atilde;o tem teto, n&atilde;o tem nada, s&oacute; grade por toda parte no ch&atilde;o de cimento. Uma situa&ccedil;&atilde;o nunca vista nos tempos atuais. Parecendo at&eacute; com os meios de torturas aplicados no tempo medieval.</p> </div> <div> <p>Para a reportagem os presos contaram que o sofrimento de tomar banho de chuva durou a noite toda. &ldquo;<strong>Agorinha, eu rezei para n&atilde;o chover mais. Se cair outra chuva aqui, Ave Maria, n&oacute;s estamos mortos&rdquo;</strong>, contou um dos presos.</p> <p>Na delegacia de Bacabal a falta de higiene por toda parte &eacute; tamanha que os funcion&aacute;rios mostraram e dizem criar uma jib&oacute;ia para que ela coma os ratos que infestam o local.</p> </div> <div> <p>A &ldquo;jaula&rdquo; para seres humanos &nbsp;&eacute; destinada ao banho de sol e ao encontro de visitantes dos detentos. <strong>Mas, na verdade, funciona como um dep&oacute;sito para</strong> <strong>colocar presos</strong>, conforme explicou o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Maranh&atilde;o, Amon Jessen.</p> <p>Tamb&eacute;m no Maranh&atilde;o, a delegacia do munic&iacute;pio de Miranda do Norte, apresenta um cen&aacute;rio de total abandono. A reportagem constatou que n&atilde;o havia nenhum policial civil naquela unidade e toda vez que tem alguma ocorr&ecirc;ncia na cidade, o &uacute;nico plantonista precisava sair da delegacia&nbsp;fechando as suas portas. Mostrou, al&eacute;m de tudo, que n&atilde;o havia atendimento burocr&aacute;tico algum, vez que, o computador da delegacia n&atilde;o funcionava. Na verdade, s&oacute; existe um monitor sujo e do tempo antigo desligado, n&atilde;o tem mais nada. O telefone tamb&eacute;m &eacute; mudo, cego e surdo.</p> </div> <div> <p>Nos xadrezes da delegacia os presos se confundem com as moscas e com o lixo espalhado por toda parte em ambiente f&eacute;tido, totalmente insalubre e desumano.</p> <p>Outra carceragem n&atilde;o muito diferente fica na delegacia de Santa In&ecirc;s. Na parede, o aviso<strong>: &quot;bem-vindo ao inferno&quot;.</strong> Homens e mulheres cumprem pena no mesmo pr&eacute;dio, n&atilde;o nas mesmas celas, evidente. Elas ficam em uma sala improvisada como cela. Como n&atilde;o h&aacute; banheiro, as mulheres usam um balde para se lavar ap&oacute;s fazer as suas necessidades fisiol&oacute;gicas.</p> </div> <div> <p>Finalizando o caos absoluto na seguran&ccedil;a p&uacute;blica do Maranh&atilde;o, assistimos que no munic&iacute;pio de Buriticupu, no ano de 2007, a delegacia foi incendiada em um protesto da popula&ccedil;&atilde;o. Agora em 2011, um novo pr&eacute;dio deve ser inaugurado. Assim, por enquanto, o distrito policial funciona em uma casa improvisada, entretanto, a equipe de reportagem encontrou o tal im&oacute;vel fechado, sem um policial sequer. A popula&ccedil;&atilde;o revoltada disse n&atilde;o haver lei naquele munic&iacute;pio e que cada um faz o que bem quer.</p> <p>Para n&atilde;o muito se alongar, sem entrar no m&eacute;rito da quest&atilde;o das outras delegacias citadas noutros lugares do Brasil, &nbsp;que foi de somenos import&acirc;ncia, passamos ent&atilde;o para a principal metr&oacute;pole brasileira.</p> </div> <div> <p>Nas delegacias de S&atilde;o Paulo, tamb&eacute;m o maior centro policial do pa&iacute;s, o problema &eacute; outro. Para se registrar um boletim de ocorr&ecirc;ncia, o cidad&atilde;o perde muito tempo, horas e mais horas. A equipe do Fant&aacute;stico flagrou a imagem do cansa&ccedil;o das v&iacute;timas a esperar por solu&ccedil;&otilde;es adequadas, bem como da embroma&ccedil;&atilde;o dos funcion&aacute;rios das delegacias que sempre protelam as suas reais obriga&ccedil;&otilde;es de bem atender a popula&ccedil;&atilde;o. At&eacute; culpa no sistema de computa&ccedil;&atilde;o apresentaram para n&atilde;o registrarem uma simples ocorr&ecirc;ncia, mas, segundo a Secretaria de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica daquele Estado, o sistema de registro de ocorr&ecirc;ncias &eacute; informatizado e funciona 24 horas.</p> <p>Em resposta a tal item da reportagem denunciante do descaso funcional, o delegado-geral da pol&iacute;cia civil de S&atilde;o Paulo, Marcos Carneiro, em atitude justa e corajosa, tomou a responsabilidade para si ao afirmar categoricamente: <strong>&ldquo;N&atilde;o &eacute; culpa do policial civil que est&aacute; de plant&atilde;o, &eacute; culpa da administra&ccedil;&atilde;o. E eu assumo a responsabilidade agora porque &eacute; culpa minha. Eu tenho que dar as condi&ccedil;&otilde;es para que um plant&atilde;o de Policia Civil seja adequado aos anseios de hoje&rdquo;.</strong></p> </div> <div> <p>Voltando ao ponto cr&iacute;tico da mat&eacute;ria que foi a quest&atilde;o dos detentos do Maranh&atilde;o, sentimos que a problem&aacute;tica das delegacias de pol&iacute;cia de todo o Brasil em estarem como respons&aacute;veis pelas cust&oacute;dias dos presos,&nbsp;&eacute; reconhecida como n&atilde;o condizente e ilegal pelo Conselho Nacional de Justi&ccedil;a quando bem entende e afirma o Juiz Conselheiro Walter Nunes: <strong>&ldquo;distrito policial n&atilde;o &eacute; lugar de preso, e n&atilde;o s&oacute; por causa da precariedade e do risco de fugas. &ldquo;Na hora que tira o agente policial para guardar ou dar a guarda para pessoas que est&atilde;o recolhidas, voc&ecirc; inibe ou prejudica essa atividade investigat&oacute;ria&rdquo;.</strong></p> <p>A triste realidade mostrada por aquela emissora televisiva seria menos deprimente se os presos das delegacias do Maranh&atilde;o estivessem encarcerados em penitenciarias ou cadeias p&uacute;blicas, em responsabilidade das secretarias de justi&ccedil;a, como de fato deveriam estar, o que n&atilde;o deixa de tirar o dem&eacute;rito da seguran&ccedil;a publica daquele Estado.</p> </div> <div> <p>&Eacute; preciso que se pensem pol&iacute;cia com profissionalismo. A &eacute;poca do amadorismo, da pol&iacute;cia artesanal, deve de vez ficar para tr&aacute;s e virar pe&ccedil;a de museu. O governo do Maranh&atilde;o por certo amanheceu de luto em ter mostrado tamanha insensatez e descaso com os seus arremedos de delegacias para o Brasil e para o mundo, com seu contingente policial que se apresentou abaixo do &iacute;nfimo. Policiais trabalhando em verdadeiras pocilgas que s&atilde;o apelidadas de delegacias, tomando conta de amontoados de presos em desacordo com a lei e ferindo de morte os seus direitos humanos e legais.</p> <p>O teor principal da mat&eacute;ria jornal&iacute;stica n&atilde;o s&oacute; mostrou a fal&ecirc;ncia da policia maranhense, mostrou o descaso do Legislativo, do Judici&aacute;rio e do Executivo, al&eacute;m da inoper&acirc;ncia do Minist&eacute;rio P&uacute;blico, que devem em urg&ecirc;ncia urgent&iacute;ssima repensarem os seus atos e atitudes para transformarem em futuro pr&oacute;ximo, tal situa&ccedil;&atilde;o vexat&oacute;ria em uma seguran&ccedil;a publica mais justa para aquela sofrida popula&ccedil;&atilde;o que est&aacute; &oacute;rf&atilde; de pai e m&atilde;e na sua prote&ccedil;&atilde;o constitucional.</p> </div> <div>&nbsp;</div> <div>Autor: Archimedes Marques (delegado de Policia no Estado de Sergipe. P&oacute;s-Graduado em Gest&atilde;o Estrat&eacute;gica de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica pela UFS) - <a href="mailto:archimedes-marques@bol.com.br">archimedes-marques@bol.com.br</a></div>
Compartilhe:

Faça seu comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos marcados são obrigatórios *