ATENÇÃO! HÁ BOA POESIA À MARGEM ESQUERDA DO RIO
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<div><strong><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Minha terra tem palmeiras,<o p=""></o></span></strong></div>
<div><strong><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Poesia e sabiá;</span></strong><o p=""></o></div>
<div><strong><span style="font-size: 9pt; color: #333333">As musas que aqui gorjeiam </span></strong><o p=""></o></div>
<div><strong><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Também gorjeiam por lá</span></strong><span style="font-size: 9pt; color: #333333">.</span><o p=""></o></div>
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<div><strong><span style="font-size: 11.5pt; color: #c91214">ATENÇÃO! HÁ BOA POESIA À MARGEM ESQUERDA DO RIO</span></strong></div>
<div><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Encanta-me e me entusiasma ver personalidades sensíveis e criativas emergirem sobretudo dos contingentes populacionais de menor porte, desfraldando a bandeira do inusitado através de seus engenhos poéticos. Refiro-me aos pequenos contingentes, porque, conforme “prega” o notável Chico Anísio, nascer em metrópoles, como Rio de Janeiro ou São Paulo, por exemplo, não é um ato de sorte – muita gente nasce. “Vantagem é nascer em Maranguape”, onde poucos têm chance de integrar as estatísticas demográficas. </span></div>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333"> É fato, também, – infelizmente - que as maiores ou menores populações de agora – como sendo isto o mal deste século – trafegam na contramão dos valores mais duradouros, quase sempre, voltadas para a amealhação, a qualquer preço, de patrimônios pessoais, que lhes parecem o último refúgio. Matam e morrem em nome desta e de outras conquistas fugazes, como se elas fossem um fim em si mesmas e não uma conseqüência pacífica dos meios legítimos e genuínos, encontradiços apenas - e tão somente - nas “veredas da justiça”. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">É por isso e tantas coisas que, como um misto de alegria e esperança, vejo surgirem de comunidades em processo de formação, ou, em fase de crescimento, entre elas, Vila Nova do Piauí e Santo Antônio de Lisboa, poetas e historiadores de elevado quilate, como Francisco de Assis Sousa, na primeira, e Nilvon Batista Brito, na segunda; além de outros que ali despertam e a partir de lá se manifestam. Pessoas aparentemente comuns que se apresentam a seus grupos sociais com uma proposta incomum. Isto é, oferecem à sociedade sua inspiração e arte como instrumento de mudança, rediscutindo conceitos consagrados e caminhos estabelecidos, via desvendamento de enigmas que têm mantida emperrada a marcha dos indivíduos. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Em seu livro “A Margem Esquerda do Rio”, publicado em 2007 e agora vindo ao meu conhecimento, Assis Sousa, professor em Vila Nova, se me afigura um desses espíritos auscultadores, como soem ser os poetas: habituado, desde sempre, a buscar, nos escaninhos mais remotos do intelecto, redefinições e faces novas para o que era convencional; e propondo respostas plausíveis – ou pelo menos razoáveis – para o que até então parecia indecifrável. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">A poesia ora inquiridora, ora introspectiva, permeia todo o livro. É assim, para ater-me a exemplos cabíveis neste espaço, em Máscaras de Papel: “fosse simples o amar, não fugiriam ao olhar as pessoas amadas”; é assado em “por um instante”: “por um instante, eis meu universo (...) a vida vai-se cumprindo, mas tudo não passa de um ledo e sublime instante”. E, para não escapar à praxe da poesia, ela também é imaginação, único meio onde a liberdade desafia os limites: “em transe, saio de mim, caminho nas nuvens, mergulho em ti, em silêncio...” </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Prezado Assis, faço-me aqui reincidente confesso, ao repetir-lhe o que, há algum tempo, sob entusiasmo, ousei propor numa apresentação a Valentim Neto, outro vate de voo singular: “Sua poesia “reforça-me a impressão de que Deus fez os poetas e filósofos da mesma substância; colocou-os em semelhante diapasão vibratório, para captarem as propriedades mais sutis da vida e dar-lhes uma forma antes imperceptível aos mortais comuns. Uma ausculta de tal alcance, porém, constitui um processo que não se realiza sem um encontro com o eu interior. É essa imersão que, paradoxalmente, os põe em uma perspectiva privilegiada. De lá, eles cumprem sua missão de desvelar o reverso das ocorrências mais comezinhas, identificando nestas uma essência que não pode ser percebida pela superfície”.</span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Maria Ilza Bezerra, ao apresentar tão bem este livro a que ora me reporto, exultou assim na última linha do prefácio: “definitivamente, a poesia salva as almas inquietas”. Além de profundo e belo, o achado da poetisa está na direção verdadeira. Permitir-me-ia aduzir apenas que, se a poesia, de fato, por ser também uma catarse, salva o poeta de suas inferioridades humanas, dá-lhe, depois, o poder de transferir distinção e nobreza para as comunidades que de alguma forma representa. Assis Sousa e Vila Nova personificam esse exemplo. A ambos, resta-me, portanto, apresentar meus parabéns e votos de que este livro seja apenas o primeiro de uma longa série. </span></p>
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<p><o p=""></o><span style="color: black"><o p=""></o></span><strong><span style="font-size: 11.5pt; color: #c91214">NILVON BRITO DÁ A SANTO ANTÔNIO “HISTÓRIAS DO RODEADOR”. </span></strong><span style="color: black"> </span></p>
<div><span style="font-size: 9pt; color: #333333">No mesmo contexto sociocultural, um pouco abaixo no mapa do estado, a vez é de Nilvon Batista Brito transcender os limites de seu reduto - Santo Antônio de Lisboa – que, aliás, também guarda o umbigo “deste locutor que vos fala”. Com o livro Histórias do Rodeador, recentemente editado pela Usina de Letras, Nilvon acaba de juntar-se a destacados nomes da terra, como Beto Brito, Valentim Neto, Edilberto di Carvalho, Jailson Klein, Elves França, Erismá Moura e outros que aqui fora palmilham caminhos da arte e das letras. </span></div>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Nilvon Brito, embora estreante em livro, é veterano em atividades culturais de variadas ordens. Colabora, por exemplo, com o jornalismo eletrônico, mantendo, há longo tempo, um blog-referência em portais da região. Isso tudo, no entanto, configura apenas uma face de sua intelectualidade versátil. Pois integrou, desde tenra juventude, - ora como cabeça, ora como braço direito – todas as cruzadas ecológicas ou de contestação que nesses anos – aproximadamente duas décadas – eclodiram nos domínios de Santo Antônio. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Remonto, à guisa de exemplo, ao princípio dos anos 90, quando ele e Dalva Cipriano - ideóloga e vanguardista de causas coletivas, porta-voz de inquietações silenciosas de sua (nossa) gente - auxiliados por outros jovens da comunidade, promoviam eventos e vigílias de protesto contra a degradação do rio que banha o município. As areias brancas que revestem e engalanam o leito do Riachão - cenário de piqueniques e poemas – já sofria, à época, ações sistemáticas de pirataria explícita; isto é, um processo de extração predatória, cujo único “propósito” eram os trinta dinheiros da ganância. A areia, de resto, ainda arregala o olho grande dos predadores da hora, enquanto permanecem fechados os da fiscalização. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333"><o p=""></o></span><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Agora Nilvon vem em livro contar as Histórias do Rodeador. Da gênese de nossos ancestrais, passando pela emancipação do município, lavra os registros oficiais da administração pública, e as composições político-administrativas que se sucederam desde o desmembramento aos dias atuais. Esclareça-se, a quem interessar possa, que Rodeador é o antigo nome da fazenda em cujo Alto se ergueu a povoação de Santo Antônio, que mais tarde viraria cidade, sem desfazer-se do elo com a denominação de origem. </span></p>
<p><o p=""></o><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Os relatos do livro baseiam-se, aqui, na tradição oral; ali, em manuscritos legados por patriarcas da terra; alhures, em obra inédita de Dalva Cipriano (personagem citada em linhas precedentes) e até em algumas já publicadas noutras partes do estado. Estas certamente contendo fragmentos e registros que dizem respeito – ainda que de passagem - à fazenda ou ao município. Trata-se, pois, de uma caminhada exploratória, em que o autor aplicou vários tipos de pesquisa, inclusive bibliográfica e documental. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333">O ponto de vista narrativo na primeira pessoa do singular – mormente o tom intimista em impressões ou memórias pessoais - sugere uma opção do autor em conferir caráter informal às histórias, isentando-as – deliberadamente, talvez, - da responsabilidade e status de História como ciência ou ramo do conhecimento. Entretanto, qualquer que seja o móvel da sua elaboração, o fato é que a pesquisa está codificada. E, como tal, assume o papel de fonte primária ou secundária, para estudiosos, presentes ou futuros, empenhados em conhecer – ou, quem sabe, documentar - o histórico da terra, inclusive seus primórdios e a gênese dos habitantes. </span></p>
<p><o p=""></o><span style="font-size: 9pt; color: #333333"><o p=""></o></span><span style="font-size: 9pt; color: #333333">Felicito-o, pois, caro amigo Nilvon, por mais essa de suas brilhantes iniciativas culturais. Foi bom que essa peça inaugural da bibliografia sobre nossa terra brotasse de uma mente bem dotada como a sua. Minhas desculpas se melhores subsídios aqui não destino aos leitores de sua obra, pois, analogamente ao que afirmara o poeta Jorge Luís Borges, depois de tantos anos praticando o ofício de escrever, só posso oferecer dúvidas. Permita-me, contudo, presumir, baseado em ilações próprias e empíricas: o primeiro livro é um compromisso que o autor assume com a continuidade e o aprimoramento da vocação revelada. E, quando se trata de uma estreia promissora como a sua, o livro certamente é o primeiro marco de um caminho sem volta. <o p=""></o> </span></p>
<div align="center"><span style="font-size: 9pt; color: #333333"><o p=""></o> </span></div>
<div style="margin: auto 0cm"><span style="font-size: 9pt; color: #333333"><strong>*Gilson Chagas é Escritor e Professor da Universidade de Brasília-DF.<o p=""></o></strong></span></div>